
Descrever uma série com seis casos de lactentes que foram internados por deficiência de vitamina B12 em hospital de referência no interior de Pernambuco.
JustificativaApesar de ser considerada infrequente, identificamos seis lactentes internados com Anemia Megaloblástica por deficiência de vitamina B12, por se tratar de um hospital de referência para 53 municípios.
MetodologiaTrata-se de um estudo observacional retrospectivo com coleta de dados em prontuário dos pacientes menores de 2 anos (lactentes) internados no Hospital Dom Malan em Petrolina/PE entre novembro de 2018 e março de 2024 com diagnóstico de Anemia Megaloblástica por deficiência de vitamina B12. Foram coletados dados: demográficos (idade, sexo, cidade de origem) e sobre o internamento (tempo, sinais e sintomas iniciais, exames realizados, tratamento instituído e desfecho). Os responsáveis por esses lactentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participação nesse estudo.
ResultadosEssa série é composta por 06 lactentes cuja idade variou de 5 a 15 meses na admissão hospitalar. Os sinais e sintomas iniciais incluíam: astenia, palidez, hipotonia, hiporexia, rebaixamento do nível de consciência, atraso ou regressão dos marcos do desenvolvimento. Dois pacientes (33,3%) eram provenientes de cidades da Bahia e quatro (66,6%) de Pernambuco. Em todos os casos o hemograma admissional evidenciava pancitopenia, sendo os valores de hemoglobina entre 1,3 a 6,1g/dL, neutrófilos entre 132 a 619/mm³e plaquetas entre 17.000 e 112.000. Foi realizado mielograma em três (50%) destes lactentes, com achado de assincronia núcleo-citoplasmática e formas megaloblastoides. Três pacientes (50%) realizaram tomografia de crânio, as justificativas foram: rebaixamento do nível de consciência; crise convulsiva e microcefalia. A dosagem de vitamina B12 em 4 lactentes (66,6%) foi inferior a 50, nos dois outros: 69,5 e 80. A reposição de vitamina B12 intramuscular foi iniciada em regime hospitalar, mil microgramas, diariamente por três dias e todos evoluiram com melhora progressiva dos sintomas e normalização do hemograma. O tempo de internamento variou de 9 a 41 dias. No total, dois pacientes (33,3%) mantiveram atraso do desenvolvimento durante o acompanhamento ambulatorial - uma paciente com diagnóstico de microcefalia e citomegalovirose e outro lactente evoluiu com mioclonias, foi o único paciente transferido para outro serviço de referência em neurologia pediátrica, sendo diagnosticado com miorritmias e iniciou uso de clonazepam. Em dois casos, foi possível avaliar a dosagem de vitamina B12 das mães, com resultados inferiores ao da normalidade.
DiscussãoOs sintomas inespecíficos inicialmente descritos nesta série de casos confirmam o que diz a literatura sobre a apresentação clínica da anemia megaloblástica nos lactentes. Os exames realizados confirmaram a hipótese de deficiência de vitamina B12 e com o início da reposição, houve notável melhora clínica e laboratorial. Apesar do tratamento, um paciente evoluiu com miorritmia e atraso do desenvolvimento, provavavelmente secundário a acometimento neurológico irreversível por essa deficiência nutricional.
ConclusãoPor ser uma condição infrequente em lactentes e com potencial de danos irreversíveis, é indispensável o reconhecimento precoce dessa deficiência e o início imediato do tratamento, evitando que exames caros ou desnecessários atrasem o diagnóstico.