A mucormicose é uma infecção fúngica invasiva rara. Ela é causada por fungos da ordem Mucorales que acomete, mais comumente, indivíduos imunossuprimidos como: portadores de doenças hematológicas, diabetes, neoplasias sólidas, grandes queimados, pacientes em regime de corticoterapia e transplantados de órgãos. A manifestação clínica mais é a forma rino-orbito-cerebral seguido pela forma pulmonar, cutânea, gastrointestinal e pela infecção disseminada. A otite externa fúngica é uma infecção, também, particularmente rara e que habitualmente é causada por fungos do gênero Aspergillus sp.

Apresentar um caso raro de otite externa por mucormicose em paciente com leucemia mieloide aguda e seu manejo.

Mulher de 60 anos de idade com passado médico de hipertensão, sobrepeso e psoríase foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda com inversão do cromossomo 16 (inv16). Na admissão apresentava 72.500 mil/mm3 de leucócitos, plaquetas de 80.500 mil/mm3 e hemoglobina de 8,7 g/dL. A paciente relatava ainda que há cerca de 30 dias evoluiu com lesão otológica a direita, associada a otalgia intensa e saída de secreção purulenta. No estudo tomográfico foi observado a presença de otite externa com acometimento ósseo na parede lateral da mastoide e parede superior da caixa timpânica com formação de coleção e focos gasosos em conduto auditivo externo. Uma amostra da secreção foi coletada para cultura onde foi isolado o agente Rhizomucor sp. Foi iniciado tratamento combinado de antifúngico e desbridamento cirúrgico pela equipe de otorrinolaringologia. A paciente foi considerada inelegível para tratamento intensivo devido a presença da mucormicose e foi iniciado tratamento com azacitidina + venetoclax a fim de obter remissão completa e assim reduzir a mortalidade precoce pela infecção. A paciente apresentou remissão completa após primeiro ciclo, porém mantinha ainda grande comprometimento de partes ósseas associada a infecção. Após três ciclos, ainda em programação cirúrgica pela otorrinolaringologia, a paciente apresentou progressão da doença de base e faleceu cerca de 6 meses após diagnóstico inicial com doença neoplásica ativa.

A mucormicose é uma doença potencialmente fatal e a ocorrência do diagnóstico concomitante ao diagnóstico de LMA é rara, sendo mais prevalente durante curso da doença devido neutropenia prolongada. A escolha de tratamento para doença de base deve levar em consideração os riscos associados a infecção e sua evolução. Apesar do tratamento instaurado o insucesso terapêutico não é raramente observado. Isso ocorre porque além de se tratar de uma patologia de difícil manejo e prognóstico desfavorável, ela ainda esbarra nas dificuldades técnicas e logísticas próprias do Sistema Único de Saúde como dificuldades de acesso medicamentoso e tratamento especializado.

A mucormicose é uma doença de cenário obscuro e de tratamento complexo principalmente no contexto de neutropenia do paciente oncológico. As duas patologias quando combinadas geram um cenário muito desafiador.