
Realizar um levantamento bibliográfico em bases de dados e bibliotecas científicas, sintetizando, analisando e discutindo a aplicação inovadora da terapia gênica, CRISPR/Cas9 no tratamento da anemia falciforme, a qual vem sendo estudada e testada.
MetodologiaEste trabalho consiste em um estudo descritivo em forma de revisão bibliográfica. Foram realizadas pesquisas em bases de dados e bibliotecas científicas, tais como Pubmed, Scielo, Nature e Clinical.Trials.gov, utilizando palavras-chave como “Anemia Falciforme”, “Terapia Gênica”, “Tratamento”, “CRISPR/Cas9”e “Aloimunização”e, ao todo, foram utilizados 60 trabalhos, entre eles livros e artigos científicos de revisão, dos quais as informações utilizadas foram cuidadosamente selecionadas, priorizando trabalhos mais recentes e não restritos apenas à língua portuguesa, a fim atender ao objetivo do trabalho.
Resultados/DiscussãoA doença falciforme apresenta-se em 60 a 100 mil brasileiros, e foi descrita inicialmente em 1910, ocasionada pela mutação em homozigose c.20A > T, no gene da beta-globina humana (HBB) localizado no cromossomo onze, levando a substituição do Ácido Glutâmico (Glu) por uma Valina (Val) no sexto aminoácido da beta globina. Essa substituição produz uma molécula denominada hemoglobina S (HbS), alterando a morfologia da hemácia para a forma de foice, o que dificulta o transporte de oxigênio no corpo e ocasiona a obstrução dos vasos sanguíneos. Os tratamentos convencionais e rotineiros consistem na utilização de Hidroxiureia e transfusão de sangue, no entanto, as complicações agudas não são totalmente eliminadas, e os quadros podem ser agravados devido a aloimunização em prol de múltiplas transfusões. Dessa forma, o transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas torna-se a única terapia curativa, todavia, poucos pacientes são elegíveis, além da baixa disponibilidade de doadores compatíveis, tornando indispensável que uma técnica menos invasiva e mais abrangente seja desenvolvida. A terapia gênica foi então alvo de estudos com o objetivo de realizar modificações pontuais no genoma humano, por meio da correção de genes mutados, sendo encontrados no mundo 41 protocolos clínicos na base de dados ClinicalTrial.gov, dos quais 10 possuem status completo. Dentre esses estudos, os sistemas CRISPR/Cas9, ZFN e TALEN são empregados em ensaios in vitro para avaliacao da capacidade de correcao da mutacao no gene da HBB em culturas de células tronco hematopoiéticas (CTH).
ConclusãoConforme observado no protocolo NCT03745287 conduzido pela Vertex Pharmaceuticals Incorporated, iniciado em 2018, o CRISPR/Cas9 foi utilizado com o objetivo de induzir os níveis de HbF, por meio da edição em células-tronco hematopoiéticas e progenitoras, do gene BCL11A, um fator repressor da produção de HbF. Essa estratégia, uma vez que comparada às demais técnicas gênicas, mostra-se mais eficiente na correcao monoalélica, ocorrendo a remissão da doença falciforme. A implementação dessa técnica deve ser analisada em prol do custo benefício, ausência de histocompatibilidade obrigatória e redução de manifestações clínicas graves.