
O plasma convalescente refere-se ao plasma de indivíduos que contraíram e se recuperaram da COVID-19 e, portanto, possuem anticorpos capazes de combater a infecção. Acredita-se que os anticorpos presentes no plasma possam neutralizar o SARS-CoV-2, diminuir a carga viral e os marcadores laboratoriais de inflamação, e consequentemente, melhorar os resultados clínicos e reduzir a mortalidade. O seu uso já havia sido testado como alternativa terapêutica em infecções causadas pelo vírus da gripe H1N1, gripe aviária H5N1, SARS-CoV-1, MERS-CoV e Ebola. Apesar de não haver consenso científico acerca do assunto, em abril de 2020, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiram uma nota técnica com recomendações sobre o uso de plasma convalescente para o tratamento de pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 . Em vista disso, o objetivo do trabalho foi apresentar os resultados obtidos a partir do tratamento com plasma convalescente em pacientes com COVID-19 no Brasil.
Material e métodosO roteiro para a revisão se baseou no fluxograma PRISMA 2020. Três bases de dados foram pesquisadas (PubMed Central, Web of Science e Scopus) e 110 trabalhos identificados. Os termos usados foram: Convalescent plasma, Treatment, COVID-19, Brazil. Excluíram-se artigos duplicados, de revisão, letters, diretrizes e protocolos. A triagem seguiu pela leitura do título, resumo e remoção dos trabalhos sem relação com o objetivo. Após a pesquisa e leitura do texto completo, oito estudos foram incluídos na revisão.
Resultados/discussãoDos oito artigos encontrados, cinco (62,5%) não demostraram associação entre a melhora clínica e a transfusão de plasma convalescente para o tratamento da COVID-19. Nesses cinco estudos, além da melhora clínica, também foram avaliadas as taxas de mortalidade, os marcadores inflamatórios, o tempo de hospitalização, a admissão na UTI e a duração da ventilação mecânica. Em um deles, o uso do plasma convalescente foi relacionado a menor taxa de mortalidade e em outro à diminuição dos marcadores inflamatórios. Nos demais não houve nenhuma associação. Dos três trabalhos nos quais houve melhora clínica associada à utilização do plasma convalescente (37,5%), dois são relatos de caso: um de uma mulher grávida e o outro de uma paciente com Imunodeficiência Comum Variável e no terceiro artigo não havia um grupo de controle para a comparação dos resultados. Nos oito trabalhos, os indivíduos tratados possuíam sintomas graves de COVID-19 e acredita-se que o plasma convalescente seja mais efetivo nos estágios iniciais da doença, logo o tempo para a sua administração é relevante para os resultados clínicos. Além disso, os estudos diferem quanto ao desenho, ao fato de serem ou não controlados e randomizados, à quantidade de plasma transfundido, aos níveis de anticorpos presentes em cada bolsa e todos possuem um baixo número amostral. Todas essas variáveis impedem uma real comprovação sobre a eficácia desse tratamento.
ConclusãoOs dados indicam que a transfusão de plasma convalescente para o tratamento da COVID-19 na população geral não foi associada à melhora clínica. Entretanto, parece ser benéfica em situações específicas, nas quais os demais tratamentos não geram o efeito esperado.