
A Hemofilia A é um raro distúrbio no qual o gene responsável pela expressão do fator VIII da coagulação está mutado, propiciando a ocorrência de sangramentos prolongados e excessivos, podendo ser classificado em leve, moderado ou grave. Recentemente aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil, o valoctocogene roxaparvovec é um medicamento de terapia genética recomendado para tratamento de adultos com hemofilia A grave. É constituído por um vetor de Vírus Adeno-Associado do sorotipo 5 (AAV5) que contém um DNA complementar ao fator VIII de coagulação (com o domínio B deletado), acionado por um promotor seletivo do fígado, que deve ser administrado em dose única, por infusão venosa. Essa revisão tem como objetivo apresentar os principais ensaios clínicos realizados para aprovação do medicamento, analisando a eficácia de sua aplicação e os efeitos colaterais relacionados.
MetodologiaPesquisa de ensaios clínicos acerca da eficácia do valoctocogene roxaparvovec, através das bases de dados PubMed, Scielo e Science Direct. Utilizou-se 8 artigos após exclusão e desduplicação.
ResultadosO desenvolvimento do medicamento envolveu nove estudos clínicos diversos. Um estudo de fase 1/2 com 13 participantes demonstrou que a transferência genética resultou em uma elevação no nível de FVIII plasmático na maioria dos participantes. Após 5 anos, a média de atividade do FVIII foi de 13%. No primeiro ano, eventos adversos relacionados ao tratamento, como artralgia, cefaleia e náuseas, foram relatados por 92% dos participantes, mas apenas 1 foi classificado como um evento sério. A elevação da enzima hepática Alanina Aminotransferase (ALT) ocorreu em aproximadamente 85% dos participantes. Reações relacionadas à infusão ocorreram em 54% dos receptores. Um ensaio de fase 3 com 134 homens com hemofilia demonstrou que, nos anos 1, 2 e 3 pós-profilaxia, as taxas médias de eventos de sangramento tratado foram de 1,2, 0,5 e 0,6, respectivamente, e a atividade mediana do FVIII foi de 11,2, 6,4 e 4,6 UI/dL, respectivamente; todos os participantes apresentaram pelo menos 1 evento adverso, e 16% relataram um evento adverso grave. Elevações de ALT ocorreram em 86% dos participantes, e todos foram tratados com imunossupressão.
DiscussãoOs ensaios clínicos baseados em AAV têm demonstrado um aumento significativo nos níveis de FVIII na maioria dos pacientes tratados, gerando uma marcante redução nos episódios de sangramento. Entretanto, a maioria dos pacientes apresentou inflamação hepática assintomática de curto prazo, entre outros efeitos colaterais. Em relação ao medicamento tradicionalmente usado no tratamento da Hemofilia A- fator VIII de Coagulação- o efeito adverso mais frequente é a própria inibição do fator VIII por ação imunológica, que acontece em até 30% dos pacientes que fazem uso dessa terapia, além de sintomas como cefaleia e febre.
ConclusãoApesar da quantidade limitada de estudos e de sua recém aparição no mercado, é possível concluir que o valoctocogene roxaparvovec possui notório potencial para o tratamento da Hemofilia A, apresentando benefícios que se sobrepõem aos riscos, revelando-se, assim, como uma alternativa promissora, segura e eficaz. Todavia, é essencial o desenvolvimento de novos estudos que possam esclarecer os efeitos a longo prazo do uso dessa terapia.