
Relatar um caso de Guillain – Barré em paciente de 12 anos de idade que utilizou plasmaférese terapêutica como primeira linha, focando nos aspectos técnicos do procedimento; Discutir as possíveis causas para o desabastecimento de imunoglobulina intravenosa (IGIV) atual.
MetodologiaColeta de dados clínicos no prontuário. Revisão de literatura, com ênfase em plasmaférese na população pediátrica, suas indicações, paticularidades técnicas e eventos adversos.
ResultadosPaciente de 12 anos de idade, sexo feminino, 35 quilos, previamente hígida, deu entrada no pronto – socorro com quadro de tetraparesia desproporcional – força grau III em MMII e grau IV em MMSS – associada à mialgia difusa. Sem quadro infeccioso ou vacinação recente antecedendo. Equipe da neurologia levantou hipótese de síndrome de Guillain- Barré e solicitou plasmaférese terapêutica, pois não havia disponibilidade de IGIV. Foram realizadas 04 sessões utilizando o sistema COM.TEC (Fresenius Kabi) com troca de uma volemia cada. O fluxo médio de extração foi de 37,5ml/min (30-45ml/min). A taxa média de ACD infundido na paciente foi de 234ml e a proporção ACD:sangue foi de 1:16. A duração média foi de 73 minutos por procedimento. Em todas as sessões foi utilizado reposição profilática com solução de 10ml de gluconato de cálcio 10%. A paciente apresentou tontura e parestesia perioral nas duas primeiras sessões. Sem outros eventos adversos. Recebeu alta após quarta sessão, já sendo capaz de deambular sem auxílio.
DiscussãoA Síndrome de Guillain Barré corresponde a um grupo de polirradiculopatias autoimunes, inflamatórias e desmielinizantes. Os tratamentos de primeira linha constituem IGIV e plasmaférese. A IGIV costuma ser preferida principalmente em crianças por maior facilidade posológica e não envolver uso de dispositivos invasivos. O desabastecimento de IGIV desde 2019 em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, tem dificultado o acesso a este tratamento. Entre as possíveis causas para este desabastecimento, podemos citar: aumento da demanda não acompanhada por aumento na produção, impactos da pandemia de COVID- 19 sobre matéria-prima (doadores de sangue) e logística (transporte, etc), descontinuação do produto por alguns laboratórios, entre outros. Segundo o último guideline da Sociedade Americana de Aférese não há diferença no desfecho entre IGIV e plasmaférese. Entre os principais eventos adversos da plasmaférese em pacientes pediátricos, destacam- se os relacionados ao acesso central (infecções, complicações mecânicas, entre outros), hipocalcemia, o volume extracorpóreo utilizado no procedimento e riscos de intoxicação por citrato. A paciente do caso apresentou apenas sintomas leves de hipocalcemia, que melhoraram após redução do fluxo de extração.
ConclusãoA plasmaférese terapêutica em pacientes pediátricos tem se mostrado eficaz, seja em primeira linha ou como tratamento complementar. Ajustes na taxa de extração, reposição profilática de cálcio e cuidados com o acesso central aumentam a segurança do procedimento.