HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica maligna responsável por cerca de 1% de todas as neoplasias. Em 2021, a incidência global estimada foi de 148.760 casos novos, com taxa de 1,74 por 100.000 habitantes. No mesmo ano, estimaram-se 116.360 óbitos por MM, resultando em uma taxa de mortalidade global de 1,37 por 100.000. O MM impacta significativamente a qualidade e a expectativa de vida, especialmente entre idosos - grupo populacional em crescimento. Embora incurável, os avanços terapêuticos recentes têm proporcionado aumento da sobrevida. Este estudo tem como objetivo analisar a mortalidade por MM ao longo de mais de duas décadas, período marcado por expressiva ampliação do arsenal terapêutico disponível.
ObjetivosInvestigar possíveis mudanças no padrão de mortalidade associado ao MM no estado de São Paulo entre 2000 e 2022, utilizando as causas múltiplas de morte com menção ao MM (CID 10: C90) em qualquer campo da declaração de óbito (DO). Identificar as principais causas básicas de morte em indivíduos com MM, comparando-as com o observado na população geral. Avaliar as condições associadas ao óbito quando MM está descrito como causa básica de morte.
Material e métodosTrata-se de um estudo observacional retrospectivo, com coleta de dados a partir de DO disponíveis em banco de dados público, referentes ao período de 2000 a 2022 no estado de São Paulo. Os dados foram categorizados por causa básica (CB), causa não básica (CNB), sexo e faixa etária em >19 anos. Foram extraídas informações anuais, por subperíodos (2000-2003 e 2016-2019) e para todo o período (2000-2022). Ademais, calculou-se a razão entre óbitos observados e esperados (O/E). Utilizou-se o software TCM-10 para análise das causas múltiplas e o Tabwin para análise das causas básicas nas DO. As variáveis demográficas foram processadas nos programas dBASE CLASSIC e Excel. As análises estatísticas foram realizadas com os softwares SPSS e Jamovi, adotando-se p < 0,05 como nível de significância.
ResultadosNo período estudado, foram registrados 6.084.318 óbitos em indivíduos >19 anos, dos quais 18.671 apresentavam menção ao MM - sendo 16.380 como CB (0,27% dos óbitos) e 2.291 como CNB. As principais CNB quando o MM foi CB foram: sepse (A40; n = 6.362), pneumonia e outras infecções agudas das vias aéreas inferiores (J12-J22; n = 5.216) e sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e laboratoriais, não classificados em outras partes (R00-R99; n = 4.837). Observou-se aumento significativo nos casos de sepse entre os subperíodos (2000-2003: n = 595; 2016-2019: n = 1.535; p < 0,001). A maioria dos pacientes com MM faleceu em decorrência da própria doença (87,73%). Quando o MM foi CNB, as principais CB foram COVID-19 (2,29%), neoplasias sólidas (1,26%) e doenças isquêmicas do coração (0,91%). Entre indivíduos de 20 a 59 anos, destacou-se a alta proporção de óbitos por HIV com menção ao MM (38/57; 66,67%). As razões O/E foram reduzidas para COVID-19 (0,79), neoplasias sólidas (0,08) e isquemia cardíaca (0,09).
Discussão e conclusãoO MM permanece como a principal causa de óbito nos indivíduos com diagnóstico da doença. Destacam-se ainda, como causas básicas associadas, a COVID-19, neoplasias sólidas, doenças isquêmicas do coração e HIV (<60 anos). O aumento expressivo nos registros de sepse sugere uma possível relação com a intensificação dos tratamentos, reforçando a necessidade de estratégias de manejo e à prevenção de infecções nessa população.




