
Analisar a mortalidade por anemia falciforme (AF) no Mato Grosso de 1996 a 2023.
Material e métodosEstudo transversal, quantitativo e retrospectivo com dados secundários, obtidos do Repositório de dados dos Sistemas de Informação da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (DwWeb/SES-MT). Foram analisados dados de pacientes com AF com crise (D57.0) e sem crise (D57.1) conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). A coleta de dados foi realizada por município de residência, abrangendo as seguintes variáveis: ano de óbito, sexo, faixa etária e cor/raça. Os dados coletados foram tabulados para distribuição de frequências absoluta e relativa.
ResultadosNo período de análise, foram registrados 179 óbitos por AF no Mato Grosso. Dentre esses registros, o município de Cuiabá (26,8%) foi o que apresentou o maior percentual de óbitos, seguido de Rondonópolis e Várzea Grande, ambos com 11,2%, e Cáceres (3,9%). Quanto ao sexo, a população feminina (50,3%) apresentou um quantitativo maior em relação a população masculina. Em relação à idade, as faixas etárias com maior número de registros de mortes foram as de 05 a 09 anos e 20 a 24 anos, ambas representando 12,3% do total, seguida pelas faixas etárias de 01 a 04 anos e 30 a 34 anos, ambas com 11,2%. No tocante à raça, observou-se maior prevalência de óbitos em indivíduos pardos (64,2%). Além disso, foi observado um maior número de registros por AF sem crise.
DiscussãoO município de Cuiabá destacou-se como local com maior percentual de óbitos por AF, essa alta concentração de casos pode ser atribuída à maior população urbana e à disponibilidade de serviços de saúde que possibilitam um melhor registro dos casos. No entanto, a presença de óbitos por AF em cidades de menor densidade populacional sugere uma maior prevalência dessa doença nessas regiões. Apesar da população feminina ter sido a mais acometida, não houve diferença significante em relação à população masculina, o que é evidenciado em outros estudos epidemiológicos sobre a ausência de relação entre a AF e o sexo. Outrossim, de acordo com os dados apresentados, foram observados que a maior taxa de mortalidade aconteceu na faixa etária de 05 a 09 anos e 20 a 24 anos, pressupondo o falecimento precoce por AF no estado do Mato Grosso. Ademais, é evidente que o perfil dos óbitos em relação à raça/cor, reflete o padrão racial característico do estado, além de concordar com o material teórico presente sobre o tema, uma vez que esta população apresenta a maior incidência de AF. Por fim, é evidenciado que a maior parcela dos óbitos ocorreu devido a AF sem crise, sugerindo que pode haver um subdiagnóstico ou uma subnotificação da AF com crise.
ConclusãoPortanto, os dados destacam a necessidade de aumentar a visibilidade da doença no estado. Nesse sentido, é preciso melhorias no diagnóstico, acompanhamento, tratamento e registro da doença a fim de evitar óbitos precoces e melhorar a sobrevida dessa população no Mato Grosso.