HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosOs Linfomas Não-Hodgkin (LNH) são um conjunto de neoplasias hematológicas de origem linfocitária, com boa taxa de sobrevida geral, mas de curso clínico variável e risco de evolução agressiva e letal. Apesar da crescente incidência mundial, estudos epidemiológicos de povos tradicionais, como indígenas brasileiros, são escassos, dificultando políticas públicas direcionadas.
ObjetivosInvestigar a distribuição temporal e sociodemográfica de internações e óbitos por LNH em indígenas brasileiros de 2015 a 2024.
Material e métodosEstudo observacional e retrospectivo, baseado em dados secundários dos sistemas SIH e SIM do DATASUS sobre internações e óbitos por LNH (CID C82–C85) entre indígenas no Brasil, entre 2015 e 2024, atrelados a variáveis sociodemográficas e hospitalares. A análise estatística, tabelada no Google Planilhas e realizada no software R versão 4.3.2, incluiu frequências absolutas e relativas, 95% IC pelo método de Wilson, testes de Qui-Quadrado ou Fisher, e regressão binomial com link log para cálculo do Risco Relativo (RR). Tendências temporais foram avaliadas por regressão de Poisson, com correção para sobre-dispersão por modelo binomial negativo. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar a permanência entre regiões. Considerou-se p < 0,05 como significante.
ResultadosNesse período, foram registradas 78 internações por LNH (7,8 casos/ano; 95% IC 6,1– 9,5), com pico de 20,5% em 2018 (95% IC 13,0–30,8), mas a análise temporal não indicou tendência significativa (IRR = 0,97; 95% IC 0,90–1,05; p = 0,36). A maioria eram homens, 57,7% (95% IC 46,6–68,0), e jovens de 15 a 24 anos, 35,9% (95% IC 26,1–47,0). A média de permanência hospitalar foi de 7,5 dias (95% IC 6,2–8,8; mediana = 7 dias; IQR 5–9; p = 0,04). A letalidade global foi de 9,0% (95% IC 4,4–17,4), com predominância de óbitos em homens (71,4%; 95% IC 35,9–91,8) e em idosos ≥ 65 anos (28,6%; 95% IC 8,2–64,1), sendo observado nos idosos um RR de 4,7 (95% IC 1,0–21,5; p = 0,049) em comparação com não idosos. A Região Norte foi a mais expressiva, pois concentrou 34,6% (95% IC 25,0–45,7) das internações, e maior tempo de internação (mediana = 9 dias; IQR 7–12) do que nas demais regiões. O Norte deteve maior letalidade, 14,8% (95% IC 5,9– 32,5) e com um RR de óbito 2,02 (95% IC 0,53–7,65; p = 0,29) em comparação com as outras regiões.
Discussão e conclusãoEmbora a predominância de internações por LNH entre indígenas do sexo masculino acompanhe o perfil nacional, destaca-se a maior ocorrência em faixa etária jovem e produtiva de 15 a 24 anos, contrastando com a predominância em idosos na população geral. A letalidade 5 vezes maior em idosos indígenas evidencia vulnerabilidade associada a comorbidades, diagnóstico tardio e limitações no acesso a terapias especializadas. A concentração de casos no Norte reflete em parte a distribuição territorial indígena, contudo, a elevada permanência hospitalar no Norte, além da escassez de CACONs e UNACONs, somada a barreiras geográficas e culturais, favorecem casos mais graves relacionados ao subdiagnóstico e ao início tardio do tratamento. A alta letalidade nacional, sobretudo no Norte, levanta questionamentos sobre equidade e efetividade terapêutica, muitas vezes distante do ideal. Os achados indicam, portanto, desigualdades regionais e falhas no acesso ao cuidado, reforçando a necessidade de uma atenção oncológica destinada às populações tradicionais.
Referências:
Fonseca BDP, et al. Geographic accessibility to cancer treatment in Brazil: A network analysis. The Lancet Regional Health - Americas, v.7, p.100153, 2022.




