
A DF é caracterizada por uma enorme sintomatologia. São crises de dores, pneumonia, necrose na cabeça do fêmur, dentre outras. Diante das dificuldades vivenciadas pelas pessoas com a DF faz-se necessário a presença do profissional psicólogo, que possa ouvir as dificuldades e consequências emocionais do estar doente desde sempre e para sempre.
ObjetivoOferecer um espaço seguro para que o paciente possa expressar seus sentimentos, preocupações e frustrações diante de sua condição orgânica.
MetodologiaO psicólogo oferece atendimento regular aos pacientes com este sofrimento físico e emocional. No decorrer dos atendimentos é frequente os mesmos relatarem o relacionamento com seus pais. Atemos a questão emocional. Aponta-se que o sofrimento aí decorre de uma via de mão dupla. Dos pais em ver o sofrimento dos filhos, com enorme culpabilidade e desejo que a dor seja neles. E dos filhos? Qual o olhar dos filhos para seus pais? “Diante das dores, peço para morrer. Mas para não magoar minha mãe falo: quero ir embora. E ir embora para onde? Para um lugar onde não exista esta dor, este lugar seria a morte. Uma vez eu pedi para morrer, falei com ela, mas ela ficou desesperada, então eu mudei. Sofreu muito, chorou demais (a mãe). Não falo mais a palavra morte com minha mãe. Só peço”(relato de paciente com DF, 46 anos). Este sentimento perpassa as diversas idade. Uma adolescente (15 anos), com várias tentativas de suicido, disse: “mãe, eu sou um peso para a sua vida, quantas vezes você precisou dormir na cadeira do hospital? ”A doença crônica dos filhos geralmente afeta a rotina dos pais. Eles podem precisar ajustar suas atividades, responsabilidades e sonhos para apoiar o(a) filho(a). Como vimos na fala de um paciente de 18 anos: “eu sou um peso na sua vida pai, você parou sua vida por minha causa”. Ainda temos uma criança de 9 anos com DF que disse “minha mãe precisou sair do trabalho para me ver no hospital”. Ou seja, os pais ficam sobrecarregados com os cuidados que a doença falciforme requer. Isso também contribui para maximizar a culpa que o(a) filho(a) sente em relação a vida de seus pais. Inúmeras vezes presenciamos separação conjugal, ficando o filho, também, com tal responsabilidade, contribuindo para aumentar sua culpa, que se traduz por: “se eu não desse tanto trabalho eles ainda estariam juntos (ao se referir a separação conjugal dos pais).
ConclusãoDiante do exposto podemos afirmar que as doenças crônicas também apresentam efeitos emocionais que podem influenciar o processo de tratamento. Conviver com uma doença que não tem cura não deve significar render-se, abdicando de sonhos e objetivos. Por mais grave que uma patologia seja, por mais cruel o seu diagnóstico, o paciente precisa sempre contar com o acompanhamento psicológico em busca de um caminho menos doloroso. Cabe ao psicólogo tentar ampliar os horizontes e as possibilidade de reorganizar a vida juntamente com o paciente e seus familiares. Sabemos que a finitude do ser humano provavelmente será para sempre a mais complexa das questões humanas. Na doença crônica a finitude anda lado a lado com o paciente, pois vivemos como se fossemos imortais. Assim, ter uma doença crônica, muitas vezes, significa lidar de maneira muito direta com esse difícil conflito existencial.