
O mieloma múltiplo (MM) é um câncer hematológico caracterizado pela proliferação anormal de plasmócitos na medula óssea, levando a complicações como infecção e destruição óssea. O Talquetamabe, um anticorpo biespecífico direcionado para ao alvo GPRC5D, tem se mostrado promissor no tratamento de pacientes recidivados ou refratários.
Série de casosCaso 01: Homem, 58 anos, em tratamento para MM triplo refratário (anti-CD38, imunomodulador e inibidor de proteassoma) e refratário a Teclistamabe, iniciou tratamento com Talquetamabe. Durante o escalonamento da dose, o paciente foi acompanhado pela equipe de Odontologia. Foi prescrito bochecho com solução dexametasona/nistatina e fotobiomodulação (LBP) diários durante internação. Evoluiu com úlceras neutropênicas, disgeusia leve e hipossalivação moderada. Encontra-se no 4ºciclo do tratamento mantendo LBP e suplementação de zinco. Os bochechos foram suspensos. Paciente ganhou peso e mantém a qualidade de vida. Caso 02: Homem, 66 anos, em uso de Talquetamabe para tratamento de MM triplo refratário, atualmente no 2ºciclo do tratamento. Durante o escalonamento da dose, foi acompanhado pela equipe de Odontologia sendo prescrito LBP diário. Intercorreu com efeitos adversos associados ao uso de opióides para dor devido a fratura vertebral. Como eventos adversos bucais apresenta disgeusia leve e hipossalivação severa. Está em tratamento com LBP, suplementação de zinco e medidas para xerostomia. Após ajustes dos opióides, o paciente recuperou o apetite e a qualidade de vida. Caso 03: Mulher, 70 anos, está no 2ºciclo de Talquetamabe para tratamento de MM recidivado. Relata ardência bucal, ageusia e hipossalivação moderada após início do tratamento apesar dos bochechos com solução dexametasona/nistatina. Evolui com perda de apetite e peso significativos. A paciente recusou acompanhamento odontológico.
DiscussãoOs eventos adversos do Talquetamabe, como disgeusia e hipossalivação, são comuns e impactam a qualidade de vida dos pacientes que devem ser orientados previamente quanto aos cuidados bucais diários com o uso de escova dental macia, creme dental específico e substitutos da saliva. A adequação bucal prévia com finalidade mitigar processos inflamatórios e infecciosos e exames clínicos frequentes são necessários para a individualização do cuidado.
ConclusãoOs mecanismos fisiopatológicos dos eventos adversos bucais induzido pelo Talquetamabe ainda não estão claros. Devido à etiologia multifatorial, às variações nos sintomas e à falta de marcadores biológicos específicos, a implementação de um protocolo clínico é desafiadora. Diante disso, abordagens multimodais e individualizadas têm sido propostas. A pequena amostra analisada não fornece dados suficientes para comprovar a eficácia do protocolo clínico instituído no manejo dos pacientes em tratamento com Talquetamabe, porém aponta em que direção devem seguir estudos futuros.