
O envolvimento secundário do sistema nervoso central no linfoma não Hodgkin (LNH) é raro e com prognóstico reservado. Embora possa ocorrer em qualquer parte do sistema nervoso central, raramente se infiltra diretamente na medula espinhal ou na cauda equina. Relatamos um caso de LNH com acometimento de cauda equina em um paciente idoso que apresentou distúrbio neurológico súbito.
Material e métodosTrata-se do relato de um caso de paciente portador de linfoma não hodgkin de grandes células B com progressão de doença para cauda equina, atendido em Hospital terciário no sul do Brasil.
Relato de casoPaciente masculino, 75 anos, portador de linfoma de grandes células B do tipo Centro germinativo de risco intermediário de acordo com o international prognostic index, diagnosticado em fevereiro de 2022 por biópsia de linfonodo mediastinal, tendo realizado 6 ciclos do esquema quimioterápico RCHOP, com PET CT lugano 2 pós segundo ciclo. Após 15 dias do último ciclo de quimioterapia, o paciente procurou o departamento de emergência por hemiparesia em membros inferiores bilateralmente, associada a dor e parestesia progressivas, além de constipação e incontinência urinária. Paciente foi submetido a ressonância magnética de neuroeixo, que evidenciou espessamento e realce intratecal pelo meio de contraste das raízes da cauda equina, inespecífico ao exame de imagem. Realizada punção lombar, com imunofenotipagem de líquor compatível com envolvimento por linfoma de grandes células B CD10+. Tendo em vista idade, comorbidades, performance, status do paciente, além de prognóstico de doença, optou-se pela realização de radioterapia local paliativa, com alívio dos sintomas de parestesia e dor, sem retorno da continência esfincteriana e possibilidade de deambulação.
DiscussãoO sistema nervoso central, em particular a medula espinhal, é um local raro para ocorrência de linfoma primário e secundário, representando 1-6% de todos os casos de linfoma não-Hodgkin. A prevalência de linfoma da cauda equina é desconhecida, mas provavelmente ainda mais rara. O tipo patológico mais comum associado é o linfoma difuso de células B grandes (DLBCL). O diagnóstico de linfoma da cauda equina é difícil, pois pode simular outras doenças mais comuns, como hérnia de disco, especialmente em seus estágios iniciais. O exame da coluna vertebral com ressonância magnética é recomendado e o exame do líquido cefalorraquidiano com imunofenotipagem pode efetuar o diagnóstico final. Uma vez realizado o diagnóstico do envolvimento do sistema nervoso central, existem várias opções de tratamento disponíveis, incluindo radioterapia local, quimioterapia sistêmica de alta dose, corticoterapia, quimioterapia intratecal (IT) e transplante de células-tronco alogênicas, cada modalidade apresenta efeitos colaterais que podem limitar seu uso.
ConclusãoO linfoma não hodgkin com acometimento de cauda equina é uma doença rara, com prognóstico reservado. O tratamento baseado em radioterapia é inicialmente eficaz; no entanto, a resposta é geralmente de curta duração com taxas medianas de sobrevivência variando de 10 a 18 meses. O paciente relatado apresentou controle parcial dos sintomas com radioterapia local, método de tratamento escolhido tendo em vista condições clínicas do paciente.