Paciente JVSD, 20 anos, sexo masculino, branco, proveniente do município de Maringá-PR, previamente hígido, apresentou quadro clínico inicial de três semanas de sintomas de diplopia, parestesia de face em região mandibular, evoluindo com plegia de membro superior esquerdo e de membros inferiores, com consequente déficit para deambulação, além de percepção de surgimento de nodulações em couro cabeludo; negava perda ponderal ou febre no período. O exame físico não apresentou alterações, exceto pela palpação de nodulações na calota craniana e linfonodomegalias cervicais bilaterais, mais proeminentes à direita, e submandibulares. Paciente encaminhado para o Hospital do Câncer de Maringá devido a exames de ressonância magnética de crânio, coluna cervical e lombar que evidenciaram múltiplos focos nodulares em subcutâneo adjacente à calota craniana; alterações em corpo vertebral de C3 com compressão ventral do saco dural, múltiplas linfonodomegalias cervicais; lesão infiltrativa do corpo vertebral de D5 promovendo estenosa importante do canal vertebral e dos forames de conjugação adjacentes. Exames laboratoriais de admissão: hemograma apresentava hemoglobina 13,2 g/dL, hematócrito 36,4%, leucócitos 7.500/μL, neutrófilos 6.150/μL, linfócitos típicos 1.200/μL, plaquetas 236.000/μL; TGO 120 U/L; TGP 127 U/L; LDH 667 U/L; HBsAg não reagente; anti-HCV não reagente; HIV 1 e 2 não reagentes. Imediatamente após admissão hospitalar foi realizada cirurgia de urgência para descompressão medular e biópsia de lesão expansiva da coluna, sendo evidenciado, em anátomo patológico, neoplasia maligna de células intermediárias, nucleoladas com frequentes figuras de mitose e apoptose, infiltrando trabéculas ósseas e partes moles; além da presença de corpos tingíveis (padrão céu estrelado) e áreas de necrose, compatível com a hipótese diagnóstica de Linfoma de Burkitt. O estudo imuno-histoquímico confirmou diagnóstico de linfoma de células B (CD 20+, CD10+, Bcl-6+, c-MYC+ e Ki-67> 95%) de alto grau, tendo como principal possibilidade o Linfoma de Burkitt. Realizados novos exames de imagem para estadiamento clínico após cirurgia de urgência. As tomografias de tórax e abdome com contraste apresentavam massa tissular paravertebral anterior e mediastinal posterior de 4 cm x 4 cm; linfonodomegalias retroperitoneais, pélvicas e inguinais medindo até cerca de 2,3 cm; volumosa massa tissular expansiva, heterogênea com áreas de necrose de 15,2 cm x 5,0 cm em cavidade pélvica direita, sem clivagem com músculo iliopsoas e vasos pélvicos, com extensão para o espaço pré-sacral, desviando a bexiga para a esquerda. Mielograma e imunofenotipagem de medula óssea e do líquor não apresentaram infiltração pelo linfoma. Avaliado ainda o cariótipo de medula óssea do paciente, que era normal. Não realizado FISH para pesquisa de t(8;14) devido à indisponibilidade no SUS. Após diagnóstico, paciente iniciou tratamento quimioterápico com protocolo R-CODOX-M/R-IVAC, estando, neste momento, no primeiro ciclo R-IVAC. Evoluiu com redução de linfonodomegalias cervicais, melhora parcial do déficit motor de membros inferiores e de dorsalgia; porém, apresentou, durante o primeiro ciclo de R-CODOX, neutropenia febril, mucosite severa, exantema pruriginoso difuso, provavelmente associado ao uso de vancomicina, além de necessidade de transfusões profiláticas de plaquetas e hemácias.
Informação da revista
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 224 (novembro 2020)
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 224 (novembro 2020)
374
Open Access
LINFOMA DE BURKITT EM UM PACIENTE IMUNOCOMPETENTE: RELATO DE CASO
Visitas
3652
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo