HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia promielocitica aguda (LPA) de alto risco é uma emergência. Taxas de mortalidade na indução superiores a 30% são relatadas em casos com hiperleucocitose > 50.000/μL. Medidas agressivas de manejo são essenciais para superar o desafio da alta mortalidade precoce.
Descrição do casoPaciente de 27 anos, masculino, previamente hígido, procurou atendimento de urgência no interior do estado do Rio de Janeiro, por quadro de sintomas gripais e distúrbios visuais nos últimos 10 dias. Hemograma inicial mostrou hiperleucocitose e plaquetopenia. Internado para avaliação hematológica, realizou citometria de fluxo do sangue periférico que exibia 89,8% de blastos CD33+++, CD13++, HLA-DR-, CD2-, CD56-, CD34-. Transferido para o Instituto Nacional de Câncer 5 dias após. Na admissão, foi imediatamente encaminhado para Unidade de Terapia Intensiva devido à amaurose bilateral e detecção de hemorragia sub-retiniana bilateral na TC de crânio. Achados laboratoriais relevantes: leucócitos 166.000/µL, plaquetas 35 mil/mm3, INR 1,45, fibrinogênio 227 mg/dL, LDH 1089, proteína C Reativa 7,88 mg/dL. Em menos de 24h da admissão iniciou ATRA, idarrubicina e hidroxiureia para citorredução e corticoterapia profilática. Apesar do início precoce da terapia, sustentou leucometria > 100.000/mm3 sendo prescrito citarabina 1000 mg endovenosa, que resultou em queda progressiva efetiva dos leucócitos. Além disso, suporte transfusional agressivo foi implementado. Aumento da dexametasona para 10 mg de 12/12h cerca de 12h após a primeira administração de ATRA foi instituído por surgimento de dispneia e hipoxemia por síndrome de diferenciação (SD) suspeita. A t(15::17) (q22;q21) foi positiva por FISH do sangue periférico assim como o PML-RARA por PCR qualitativo, Durante a internação, complicações infecciosas (sepse e bacteremia por germe multi resistente), SD, hepatite medicamentosa, trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar ocorreram. Apesar das intercorrências, o paciente não apresentou novos eventos hemorrágicos significativos. O tratamento de indução resultou em remissão hematológica completa. Atualmente, em acompanhamento ambulatorial na fase de consolidação do protocolo.
ConclusãoA contagem de glóbulos brancos ao diagnóstico é o principal fator preditivo de falha terapêutica na LPA. Estudos de vida real mostram taxas de mortalidade precoce de 20%–30% nos casos de alto risco, mesmo com uso de ATRA. Outros associam hiperleucocitose com risco ainda maior de morte na indução e tendência à maior recidiva e menor sobrevida. A leucoaférese foi associada à hemorragias graves. Uso precoce de ATRA mesmo antes de confirmação genética é a intervenção com maior impacto na sobrevida. Contribuíram para o sucesso do caso descrito, a agilidade no acesso a exame e centro especializados, a rapidez no início do ATRA, a abstenção de procedimentos invasivos, o suporte transfusional e cuidados intensivos, assim como o controle da SD. Este caso enfatiza os desafios complexos enfrentados para superar o altíssimo risco de mortalidade precoce na LPA hiperleucocitária. Atuação coordenada, diagnóstico rápido e terapia imediata são pilares fundamentais para melhores desfechos.




