O manejo da leucemia mielóide crônica (LMC) durante a gravidez é assunto de debate contínuo e existem poucos relatos sobre os desfechos da LMC nessas mulheres. O objetivo do estudo é comparar a sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) entre mulheres que engravidaram após o diagnóstico de LMC e aquelas que não o fizeram, bem como descrever os tratamentos realizados durante a gravidez e os desfechos materno-fetais. Métodos: Estudo retrospectivo, incluindo mulheres com menos de 45 anos e diagnóstico de LMC entre 1991 e 2018, do banco de dados do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Resultados: Foram revisados 100 casos e 98 foram incluídos para análise. A SLP e SG dos grupos A (63 não gestantes) e B (35 gestantes) não apresentaram diferença estatística numa mediana de 11 anos de seguimento (p = 0,15). Na análise multivariada foi identificada apenas a má aderência ao tratamento como fator de risco independente para SLP e SG (HR:9,7, IC 95%:1,9-47,7). Comparando mulheres com gravidez não planejada (grupo B-NP, n = 21) com o grupo A e considerando a aderência, a SLP foi pior no grupo B-NP sem adesão (p < 0,0001). A taxa de não aderência nos grupos A, B e B-NP foi de 22%, 40% e 52%, respectivamente. Das mulheres que receberam tratamento durante a gestação (60%), 2 realizaram leucoaférese, 18 receberam interferon alfa (IFN) e 1 hidroxiureia. Dentre as que estavam em resposta molecular maior/profunda no início da gestação e suspenderam o Inibidor de Tirosina Quinase (ITK), 63% perderam resposta e dessas, 90% recuperaram após reintrodução. Nenhuma evoluiu com progressão ou óbito. Complicações ocorreram em 37% de todas as gestações: 9 abortos, 3 prematuros, 3 doenças hipertensivas específicas da gravidez, 1 descolamento de placenta e 1 sofrimento fetal. A concepção ocorreu em vigência de ITK em 60% das gestações e 52% delas evoluíram com complicações, incluindo 2 mal formações fetais (encefalocefele com ausência de vermis cerebelar e hidrocele). Discussão: A literatura é escassa no que se refere ao desfecho da LMC em mulheres que engravidam. Este é o primeiro estudo que avalia a gestação como fator de risco para progressão/óbito, comparando gestantes e não gestantes numa mesma coorte. Apesar da gestação não apresentar impacto nos desfechos, mulheres que apresentam gestação de forma não planejada têm maior chance de não aderência e, consequentemente, pior SLP. Diversos estudos já observaram que a não aderência ao tratamento aumenta a chance de falha de tratamento, bem como o risco de progressão porém, não há relatos de que gestação não planejada é alerta para não aderência. A taxa de perda de resposta e a sua recuperação após reintrodução do ITK foi semelhante à encontrada na literatura. Com a possibilidade atual de manutenção da remissão pós interrupção do tratamento, abre possibilidade para o planejamento da gestação desde o início do diagnóstico da LMC. Não há consenso quanto ao melhor tratamento da LMC durante a gestação, mas sabe-se que leucaférese e IFN são seguros; enquanto a hidroxiuréia e ITK devem ser evitados pelo risco de teratogenicidade e complicação gestacional. Conclusão: A gravidez em si não interfere nos desfechos da LMC a longo prazo, no entanto, as mulheres que têm uma gravidez não planejada apresentam maior risco de não adesão, bem como progressão e morte devido à LMC e merecem uma abordagem especial.
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