
As leucemias agudas (LA) são neoplasias hematológicas de curso rapidamente agressivo, porém curáveis, que eventualmente podem acometer mulheres em idade gestacional, numa incidência aproximada de 1 para 100.000 gestações. Quando a gravidez é complicada com o diagnóstico de LA, surge o dilema entre arriscar a sobrevida materna, adiando a quimioterapia e o potencial dano fetal ao ser exposto a drogas anti-neoplásicas.
ObjetivoRelatar caso de paciente diagnosticada com Leucemia Mieloide Aguda durante a gestação.
Relato do casoV.P.J, 39 anos, G3P2A0, diagnosticada com LMA em 25/10/22, na 25ª. semana de gestação. Apresentava medula óssea com 93,6% de blastos exibindo CD33 ++, CD13 parcial, CD117 parcial, MPO parcial, CD34 negativo, HLA-DR negativo e cariótipo normal (46, XX). Recebeu indução padrão para LMA com daunorrubicina 60 mg/m2/dia por 3 dias e citarabina 100 mg/m2/dia por 7 dias, alcançando Doença Residual Mensurável (DRM) negativa por citometria de fluxo. Submetida a 1ª. consolidação com citarabina na dose de 1,5 g/m2 em 30/11/22. Em seguimento obstétrico, devido aos achados ultrassonográficos de oligo âmnio, restrição de crescimento intrauterino e centralização hemodinâmica fetal, a paciente foi submetida a cesárea em 21/12/22, no D22 da consolidação, com 33 semanas de gestação. O recém-nascido, apresentava exame físico normal, porém alterações no hemograma (Hb = 10,9 g/dL, L = 3700, N = 110, p = 757.000). Apresentou quadro infeccioso sem foco aparente nos primeiros dias de vida, recebendo antibiótico e alta com recuperação hematológica em 15/01/23. Após o parto, a paciente seguiu o regime de consolidação com 3,0 g/m2 de Citarabina por mais 3 ciclos, mantendo DRM negativa ao final da consolidação (06/04/23). O bebê está com 7 meses de vida e apresenta crescimento e desenvolvimento normais.
DiscussãoHá poucos dados na literatura abordando o tratamento e o desfecho das LAs na gestação. Alguns apontam para uma sobrevida semelhante à da população em geral tratada para LA, entretanto com uma incidência maior de aborto, natimorto e parto prematuro. Aparentemente, se a doença ocorre no 1º. trimestre, é aconselhável a interrupção da gestação a fim de promover a possibilidade de tratamento adequado. Durante o 2º. e o 3º. trimestres, a quimioterapia pode ser empregada, junto ao monitoramento fetal, permitindo a remissão da leucemia e o parto de RNs sem malformações, sendo também possível adiar o início do tratamento para o pós-parto quando a leucemia é diagnosticada no 3º. trimestre. No caso relatado, por encontrar-se ainda no 2ºtrimestre, o início do tratamento não pôde ser postergado, sendo optado pela indução padrão, mas pela consolidação em menor dose, obtendo um desfecho positivo, com a obtenção de DRM negativa. O RN apresentou alterações hematológicas transitórias, descritas em literatura, porém segue um desenvolvimento normal para a idade.
ConclusãoO diagnóstico de LMA durante a gestação representa um desafio em relação a conduta terapêutica. Contudo, o uso de quimioterapia é relativamente segura no segundo e terceiro trimestres, possibilitando um desfecho positivo tanto para a mãe, quanto para o bebê.