
O mieloma múltiplo (MM) é responsável por 10% das neoplasias hematológicas. O uso de apenas agentes alquilantes e corticosteróides foram por muito tempo as únicas opções para o seu tratamento. Nas últimas décadas, a terapia de altas doses, seguida de TCTH mostrou sobrevida livre de progressão (SLP) maior, sendo então instituída como terapia padrão após terapia inicial. O TCTH no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Porto Alegre/RS, começou a ser realizado em dezembro de 2021. Visto que o HNSC não possuía serviço de TCTH próprio, o estudo comparou os resultados dos pacientes que realizaram o TCTH em outros hospitais com os que o fizeram no HNSC, identificando o tempo de espera para realização do TCTH, tempo de enxertia, toxicidade inicial, complicações e resposta até cem dias pós-TCTH.
MétodosO estudo foi uma coorte retrospectiva, com alocação dos pacientes portadores de mieloma múltiplo do HNSC que fizeram o TCTH no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), na Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre (SC) e no HNSC, em 2017, 2018, 2019 e 2022. Foram analisadas as características clínicas: idade, sexo, tipo de mieloma, status performance (ECOG), e os desfechos: tempo entre diagnóstico e realização do TCTH, tempo para a enxertia, complicações presentes no pós-TCTH (neutropenia febril, internamento em UTI, colite neutropênica e mucosite) e respostas obtidas no D+100 pós TCTH. Os dados foram codificados e analisados pelo software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.
Resultados26 pacientes foram incluídos na amostra. 7 (26,9%) realizaram o TCTH no HCPA, 10 (38,5%) na SC e 9 (34,4%) no HNSC. 16 (61,5%) eram do sexo masculino. A média de idade foi 57,5 anos. 9 (34,6%) expressavam IgA, 6 (23,1%) expressavam cadeias leves lambda ou kappa, 5 (19,2%) expressavam IgG, 5 (19,2%) expressavam proteínas mistas (cadeias leves lambda ou kappa + IgG ou IgA) e 1 (3,8%) era não secretor. 18 tinham ECOG de 0 a 2 e os 8 restantes ECOG 3. O desfecho principal, tempo de espera do diagnóstico até o tratamento, mostra que o tempo de espera dos pacientes que realizaram o TCTH no serviço próprio (HNSC) foi menor e estatisticamente significativo (p 0,47) do que aqueles que foram encaminhados para realização em outros serviços. O tempo de enxertia dos que fizeram o TCTH no HNSC teve uma média de 10,3 dias, enquanto no HCPA foi de 14,7 dias e na SC foi de 13,5 dias.
Discussão e conclusãoOs pacientes que realizaram TCTH no HNSC tiveram uma espera média de 10 meses, enquanto os outros tiveram uma espera média de 18 e 19 meses, respectivamente. Fato que mostra a importância de se ter um serviço de TCTH num hospital público terciário que é referência para o tratamento de doenças hematológicas na região, possibilitando um tratamento padrão-ouro, sem atrasos e com maior possibilidade de SLP. As complicações referidas no pós-TCTH imediato foram semelhantes entre os grupos, fato também esperado devido às particularidades inerentes ao regime de condicionamento utilizado. O estudo tem limitações, sendo a principal o tempo de acompanhamento dos pacientes incluídos, que só foi até cem dias após o transplante, não sendo possível avaliar o SLP desses pacientes a longo prazo.