
Relatar um caso de paciente oligossintomática com leucemia de células plasmáticas (LCPs).
Materiais e métodosEstudo descritivo, do tipo relato de caso, com consulta e coleta de dados em prontuário.
Resultados e discussãoMulher, 61 anos, previamente hipertensa, portadora de doença de chagas; encaminhada ao ambulatório de hematologia por suspeita de leucemia linfocítica crônica. Em março de 2022 relatava astenia, náusea e vômitos com início a 2 meses sem outras queixas, exame físico sem organomegalias, sem linfonodopatias palpáveis. O hemograma da admissão apresentava: Hb 8,7; Htc 25,7%; HCM 35,8; VCM 105,8; CHCM 33,9%, RDW 16%, Leucócitos: 30.300; neutrófilos: 3.333; linfócitos: 25.149; plaquetas: 133.000; a microscopia com poiquilocitose, hemácias elípticas, presença de linfócitos com bordas irregulares e, por vezes, com projeções, com citoplasma intensamente basófilo, área clara perinuclear. Investigação complementar com sorologias, perfil do ferro e vitamínico dentro da normalidade. Dosagem de imunoglobulinas IgM <10, IgA <10, IgG 346 mg/dl, confirmando tripla imunoparesia. Beta-2-microglobulina de 5.146 ng/mL, Creatinina 0,87 mg/dL. Eletroforese de proteínas com pico monoclonal em região de gamaglobulina, correspondendo a 5,1% do total de proteínas. Devido às limitações no serviço não realizado imunofixação e dosagem de cadeias leves no diagnóstico. Procedido imunofenotipagem de sangue periférico que apresentou 62,3% de células plasmocitárias, das quais 61,9% (99,5% do total) expressavam CD38++, CD138++, CD117++, CD81++, CD45 negativo e monoclonalidade para cadeia leve lambda intracitoplasmática, e negatividade para CD19, CD20, CD56, CD200 e cadeia kappa; compatível com neoplasia de células plasmocitárias com fenótipo aberrante e monoclonal. Seguido com avaliação medular, cujo histopatológico resultou em infiltração medular maciça por população celular com fenótipo plasmocitoide, perfazendo cerca de 90% do volume celular total da amostra, com imunofenótipo: CD20-, CD56-, CD79-, CD117-, CD38+ e CD138+ em cerca de 90% das células, kappa -, lambda+; consistentes com infiltração medular maciça por neoplasia plasmocitária com restrição de cadeia lambda. Fechado o diagnóstico para Leucemia de Células Plasmocitárias secundária ao Mieloma Múltiplo. Instituiu-se então esquema quimioterápico baseado na associação de ciclofosfamida, dexametasona e bortezomibe (VCD), com significativa melhora no hemograma após três ciclos, apresentando em julho de 2022: Hb 11,3; Htc 35,1%; Leucócitos: 6390; plaquetas: 158.000. A paciente segue em quimioterapia vigente com melhoria dos sintomas, com plano de receber transplante de células tronco hematopoéticas autólogas.
ConclusãoA LCPs se trata de uma discrasia imunológica derivada de um Mieloma Múltiplo. Esta é uma transição rara, ocorrendo apenas em cerca 0,5% a 2% dos casos, apresentando uma incidência de 0,4 casos por milhão. Por definição considera-se como LCPs, a presença de ao menos 20% de plasmócitos circulantes no sangue periférico ou contagem de ao menos 2.000 plasmócitos/mm3. Mesmo com melhoras causadas pela implementação do inibidor de proteassoma (bortezomibe) no plano terapêutico e a possibilidade de transplante de medula óssea, o prognóstico segue ruim, implicando em baixa sobrevida. No caso apresentado, a presença de 62,3% de plasmócitos em sangue periférico comprova facilmente o diagnóstico de LCPs, porém, ainda que com uma resposta muito positiva ao tratamento e a elegibilidade ao transplante, a literatura não permite a espera de um bom prognóstico à paciente.