
Discutir decisões terapêuticas em pacientes com neoplasia hematológica e disfunção cardíaca grave e demonstrar a importância da interdisciplinaridade e cuidado holístico do paciente.
Relato de casoPaciente masculino, 50 anos, apresentando parestesias em extremidades desde 2017, realizou exames de investigação: eletroneuromiografia mostrou polineuropatia sensitivo-motora não desmielinizante, diagnóstico de diabetes mellitus e pico monoclonal de 0,64 g/dL. Para melhor avaliação da neoplasia plasmocitária foi realizada ressonância magnética de corpo inteiro e detectada lesão expansiva localizada na diáfise proximal da tíbia direita medindo 7,0 cm que foi biopsiada com resultado de plasmocitoma. Considerando a síndrome de POEMS pelas demais alterações descritas, foi realizada a dosagem VEGF que resultou em 1294,30 ng/L, desta forma confirmando a hipótese diagnóstica. Antes de iniciar o tratamento do paciente, o mesmo realizou consulta com oncocardiologia onde foi diagnosticado com estenose aórtica severa e necessidade de cirurgia para que o paciente pudesse prosseguir com o tratamento oncológico (tanto quimioterapia como transplante autólogo). Inicialmente foi contra indicado o transplante autólogo e o paciente não tinha condições de cirurgia convencional para troca valvar. Porém, após avaliação minuciosa da equipe de oncocardiologia da instituição, foi realizada a troca valvar por método não invasivo permitindo assim o melhor tratamento oncológico possível para o paciente.
DiscussãoAntes da realização de um tratamento quimioterápico ou transplante de células tronco hematopoéticas, é ideal que o paciente realize ampla avaliação, visto que cada vez menos a idade biológica tem sido usada como critério para tratamento. Muitas vezes nos deparamos com comorbidades graves que podem impedir o tratamento adequado do paciente e o paciente acaba sendo classificado como “inelegível ao transplante” que por fim determina toda modalidade terapêutica que será feita dali por diante. Em casos como estes, os pacientes devem ser classificados de outra forma, onde o transplante não poderá ser realizado naquele determinado período esperado, mas que poderá ser feito posteriormente após melhora da performance do paciente, tanto pela melhora da doença de base quanto de outras comorbidades graves potencialmente tratáveis que podem passar abatidas pelo hematologista. Nestes casos, é muito importante a interdisciplinaridade e o conhecimento por parte das demais especialidades das peculiaridades dos pacientes onco hematológicos.
ConclusãoFica cada vez mais evidente a importância da interdisciplinaridade entre diversas áreas profissionais no tratamento do paciente oncológico como enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, etc. Porém, o paciente oncológico possui diversas peculiaridades que levam à alterações orgânicas diversas, muitas vezes desconhecidas pelo hematologista. É importante que o paciente oncológico possa ter assistência das diversas especialidades como cardiologista, dermatologista, endocrinologista, nefrologista, entre outros, mas que os mesmos conheçam os aspectos biológicos mais específicos e delicados destes pacientes.