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Vol. 44. Núm. S2.
Páginas S79 (outubro 2022)
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LEISHMANIOSE VISCERAL E O PAPEL DO MIELOGRAMA NO DIAGNÓSTICO
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NCC Oliveira, ACA Silveira, MM Loureiro
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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Vol. 44. Núm S2
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Introdução

Leishmaniose visceral (calazar; LV) é uma doença sistêmica crônica que acomete baço, linfonodos, fígado e medula óssea (MO). É causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitido pela picada de mosquitos flebotomíneos infectados, sendo o cão seu principal hospedeiro reservatório. O período de incubação pode ser longo, variando de dois a seis meses. O quadro inicia-se com sintomas de mal estar, febre, perda de peso e hepatoesplenomegalia e tem curso insidioso. Sabidamente, os parasitas se replicam no sistema reticuloendotelial, podendo acarretar em citopenias importantes, devido à supressão da MO, hemólise e até sequestro esplênico.

Objetivo

Apresentar o caso de um paciente que desenvolveu quadro de LV insidiosa, com pancitopenia e diagnóstico realizado no exame microscópico do mielograma.

Relato do caso

Homem, 75 anos, morador do bairro Piedade no Rio de Janeiro - RJ, hipertenso e diabético, iniciou em outubro de 2020 quadro de astenia e fadiga, sem febre, com hemograma evidenciando pancitopenia leve. Na ocasião, foi diagnosticado com tumor neuroendócrino, tratado com exérese da lesão. Ficou em seguimento ambulatorial com Hematologia, devido à pancitopenia não resolvida. Em setembro de 2021, durante consulta de rotina observou-se queda importante da contagem plaquetária, com trombocitopenia grave (< 20.000/mm3). A análise do sangue periférico evidenciou presença de leve rouleaux de hemácias e trombocitopenia importante. Realizou aspirado e biópsia de medula óssea, com mielograma revelando presença de vários parasitas extra e intracelulares, morfologicamente sugestivos de Leishmania. Paciente convocado para internação e na admissão foram observados hepatoesplenomegalia e história epidemiológica compatível com a hipótese de leishmaniose; apesar de viver em área não endêmica, possuía 7 cachorros, 6 deles falecidos sem causa conhecida. Realizou novo mielograma, para coleta de cultura para Leishmania, com resultado confirmatório. O laudo histopatológico da MO confirmou a presença de inúmeros histiócitos, por vezes agrupados, com inúmeras formas amastigotas de Leishmania, sp. O tratamento escolhido foi anfotericina B e após 10 dias houve melhora clínica, com redução das visceromegalias e citopenias, recebendo alta hospitalar.

Discussão

A tríade típica de sintomas da LV: anemia, esplenomegalia e febre, pode não estar completa em todos os casos. As opções de métodos diagnósticos da doença incluem visualização do amastigota em esfregaços ou tecidos (geralmente medula óssea ou baço); isolamento do parasita por cultura; detecção por PCR do DNA do parasita e testes sorológicos. O aspirado de MO (para histopatologia, cultura e testes moleculares) é a amostra diagnóstica de escolha, pois o aspirado do baço está associado ao risco de hemorragia. O histopatológico requer visualização de amastigotas (corpos esféricos que medem de 1 a 5 mícrons, encontrados dentro de macrófagos, mas também podem ser visualizados no ambiente extracelular, possuem um grande núcleo e uma proeminente organela em forma de bastonete chamada cinetoplasto).

Conclusão

O exame da medula óssea embora seja invasivo, quando realizado no paciente com citopenias importantes tem boa acurácia e pode ajudar com o diagnóstico na análise citológica inicial (mielograma).

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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