
Aloanticorpos clinicamente significativos se desenvolvem em até 30% dos pacientes que recebem múltiplas transfusões, representando um risco para o paciente e desafio para os bancos de sangue. Dentre estes pacientes politransfundidos estão os oncológicos ou onco-hematológicos, que comumente demandam de suporte transfusional ao longo do tratamento. Identificar quais pacientes representam o grupo de maior incidência na formação de aloanticorpos e tomar medidas preventivas, como a transfusão de hemácias fenotipadas, pode representar uma melhoria significativa, tanto para o serviço e principalmente para o paciente.
ObjetivoDeterminar a incidência de aloimunização eritrocitária e a prevalência de especificidade dos aloanticorpos em pacientes oncológicos e onco-hematológicos, de um hospital especializado em oncologia de São Paulo. Comparar os dois grupos e com dados da literatura.
Materiais e métodosForam incluídos todos os pacientes com diagnósticos de doenças oncológicas e onco-hematológicas, que receberam transfusão de hemocomponentes, no Hospital Paulistano (SP), de janeiro de 2017 a junho de 2022. A ocorrência de aloimunização, assim como os anticorpos identificados foram obtidos por análise retrospectiva dos prontuários, em sistema informatizado.
ResultadosNo total 1907 pacientes foram incluídos no estudo, sendo 1409 pacientes com diagnósticos de doenças oncológicas e 498 de doenças onco-hematológicas. A incidência de anticorpos irregulares foi de 3,56% (68 pacientes) no grupo total, 2,9% (41) no grupo oncológico e 5,42% (27) no onco-hematológico. A prevalência dos aloanticorpos identificados foi: anti-E > anti-D > anti-K > anti-Dia = anti-C = anti-c = anti-M. Em 17 pacientes (25%) foram encontradas associações de anticorpos.
DiscussãoIdentificamos uma taxa de aloimunização de 3,56%, dentro dos índices descritos na literatura para a população geral, entre 2 e 5%. Contudo, ao analisarmos os grupos separadamente a taxa de aloimunização dos pacientes oncológicos cai para 2,9%, enquanto dos pacientes onco-hematológicos sobe para 5,42%, o que sugere que apenas este grupo se beneficiaria de transfusão de hemocomponentes fenotipados. Contudo, mais análises, considerando o número de transfusões e separando os pacientes oncológicos por grupos, além da análise estatística para avaliar o significado dos dados, são necessárias para uma conclusão definitiva. Em relação aos anticorpos mais prevalentes foram direcionados principalmente aos antígenos dos sistemas Rh, Kell e Diego, dados que coincidem com a literatura. Anticorpos contra os sistemas Kidd, Duffy e S não foram muito prevalentes, sendo identificados em pacientes com múltiplos anticorpos.
ConclusãoA aloimunização eritrocitária representa um desafio para os serviços de hemoterapia. Contudo, realizar transfusão de hemácias fenotipadas para a maioria dos pacientes não é justificável, tanto em termos de custo quando em aumento na segurança transfusional. Assim, identificar os grupos de pacientes que se beneficiariam dessa modalidade de transfusão representa um ganho importante para o serviço e o paciente. Esse trabalho representa o primeiro passo nesse sentido.