
Apresentar a experiência com imunoterapia em linfomas pediátricos recidivados ou refratários à Quimioterapia (QT).
MetodologiaEstudo descritivo e retrospectivo de 3 casos admitidos no serviço de oncologia e hematologia pediátrica do HCFMRP-USP que utilizaram imunoterapia devido a linfomas refratários ou recidivados (2016 a 2021). Os dados foram obtidos por meio do acesso aos prontuários. O uso da medicação foi aprovado pelo CEP local.
Descrição dos casos#1: Masculino, 14 anos, diagnosticado com Linfoma de Hodgkin (LH) variante esclerose nodular, estádio IIIB. QT: 6 ciclos de BEACOPP com 1ª Remissão Completa (RC). Recidiva precoce; 2ª linha QT (3 ciclos DHAP): Remissão Parcial (RP), com progressão; 3ª linha QT (ICE-2 ciclos), RP (PET-CT). Realizou transplante autólogo de medula óssea (TAMO; condicionamento BEAM). Pós-TAMO: progressão (PETR-CT). Indicado radioterapia, com RP + progressão. 4ª linha QT (Gencitabina/Oxiliplatina, 8 ciclos), com Doença Estável (DE). Iniciou Pembrolizumab (200 mg q14/14 dias): RC após 4 ciclos (PET-CT). Realizou TMO alogênico não-aparentado (10 × 10). Segue em RC 30 meses pós TMO. #2: Masculino, 13 anos, diagnosticado com Linfoma não-Hodgkin T/NK (LNH-T/NK), estádio IV. Iniciado protocolo SMILE. Reavaliação (PET-CT): Progressão da Doença (PD). 2ª linha QT: MTX + ICE (3 ciclos): nova PD (PET-CT). 3ª linha QT: fludarabina + bortezomibe (2 ciclos): sintomas compressivos de via aérea. Indicado imunoterapia com Pembrolizumab. Recebeu CHOP + bevacizumabe (2 ciclos – com PD) até a chegada de Pembrolizumab. Após 2 ciclos de pembrolizumab, PET-CT mostrou PD; optado por cuidados paliativos. Iniciado QT oral (6-MP + MTX) + radioterapia paliativa seguida de mais 2 ciclos de pembrolizumab, evoluindo para óbito 8 meses do início do pembrolizumab. #3: Masculino, 16 anos, diagnosticado com LNH-T/NK nasal, com PCR para EBV+, estádio IV. 1ªlinha QT com protocolo SMILE: aumento da lesão e áreas necróticas em palato. 2ªlinha QT com IE+Gencitabina, com PD. Iniciado Nivolumab (3 mg/kg, q14/14 dias) + Gemcitabina/Oxaliplatina, com excelente resposta e RC após 6 ciclos (PET-CT). Consolidado tratamento com TMO alogênico haploidêntico. Segue em RC 4 meses pós TMO.
DiscussãoOs linfomas são a 3ª neoplasia mais frequente em pediatria, habitualmente com boa resposta ao tratamento convencional. Nos casos refratários/recidivados, a sobrevida se reduz drasticamente, e as opções terapêuticas com potencial curativo tonam-se escassas. Nesse cenário, a imunoterapia desponta como alternativa de tratamento. Os fatores associados a resposta a inibidores de PD-1/PD-L1 ainda não estão totalmente estabelecidos. Altas taxas mutacionais, tumorais, instabilidade de microssatélites e amplificações em 9p24.1 (em LH/LNH) parecem estar implicadas na resposta a imunoterapia. Apesar de não termos observado efeitos adversos graves nesta pequena série, efeitos colaterais da imunoterapia são descritos, e devem ser monitorados.
ConclusãoO uso da imunoterapia resultou em RC de casos refratários/recidivados de linfomas pediátricos, possibilitando TMO alogênico em 2 de 3 casos avaliados. Recentemente, a ANVISA aprovou terapia anti-PDL1 para crianças com LH refratários, ou após 2ª recidiva (> 3 anos de idade). Estudos clínicos para o uso de imunoterapia para LNH em pediatria ainda estão em andamento. Esta pequena série ilustra a possibilidade do uso em vida real da imunoterapia para casos selecionados de linfomas pediátricos.