
Descrever os impactos e desafios na implantação do processo transfusional de enfermagem em hospital público especializado em trauma e alta complexidade.
MétodosEstudo descritivo, do tipo relato de experiência, desenvolvido no Instituto Dr. José Frota (IJF), Fortaleza, Ceará.
Resultados e DiscussãoA implantação do processo transfusional com atuação do enfermeiro iniciou no primeiro semestre de 2011. Foram realizadas ações de capacitação teórica e prática durante dois meses, ministrada pela coordenação do serviço transfusional. A estratégia de capacitação, com duração de 40 horas/aula, mobilizou profissionais de enfermagem do IJF e do Hemocentro coordenador do Ceará. As ações tinham como objetivo a qualificação dos profissionais para realização do ato transfusional seguro, além do acompanhamento prático em hemotransfusão, em conformidade com a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) n°. 306/2006, vigente à época. No segundo semestre de 2011, foi implementada Portaria do Munícipio n°776/2011, ressaltando a atuação do enfermeiro em hemoterapia, estabelecendo a responsabilidade da transfusão pelo enfermeiro do IJF. Essa ação gerou inquietação e insegurança de alguns profissionais de enfermagem. Apesar das capacitações e do acompanhamento prático em hemotransfusão, o IJF suspendeu o processo transfusional realizado por enfermeiros; e retornou a implementar essa estratégia em janeiro de 2013, sob nova gestão institucional. Em 2015, implantou-se o uso da Recuperação Intraoperatória de Sangue (RIOS), em cirurgias eletivas da traumatologia e neurocirurgia, sob responsabilidade do enfermeiro coordenador do serviço de hemoterapia do IJF, em seguida, expandiu-se o uso da tecnologia para o cenário emergencial do trauma em 2016, com grande aceitação das equipes cirúrgicas no método de conservação do sangue no intraoperatório. Em 2017, pela primeira vez, o Núcleo Transfusional do IJF teve uma enfermeira na coordenação, anteriormente exercido exclusivamente por médicos hematologistas e hemoterapeutas, fato inédito no histórico de 85 anos de existência da instituição, contribuindo com o protagonismo da enfermagem em serviços de hemoterapia no Ceará. Nesse mesmo ano, introduziu-se na instituição um dos principais protocolos transfusionais de emergência “Protocolo de Transfusão Maciça - PTM”, sob coordenação do Núcleo Transfusional e Comitê Transfusional Hospitalar – CTH. Em outubro de 2018, constituiu-se uma equipe de enfermeiros do trauma para atuação no gerenciamento de pacientes com choque hemorrágico, no manejo de tecnologias inovadoras, sendo o primeiro serviço público do Estado com esse modelo de gestão no atendimento emergencial ao trauma. Essa atuação, oportunizou a validação de um protocolo sobre o processo de enfermagem aos pacientes com risco de choque hemorrágico, contribuindo para atualização da Resolução do COFEN em Hemoterapia (n°. 629/2020).
ConclusãoA implantação do processo transfusional para a enfermagem foi desafiador, porém, proporcionou saberes e habilidades técnicas para uma assistência de qualidade e segura nas etapas do ato transfusional, favorecendo o protagonismo da categoria na coordenação e participação em serviço de hemoterapia, manejo de tecnologias inovadoras e na condução de protocolos institucionais, voltados ao manuseio da hemorragia grave, colaborando com oportunidades de nova atuação do enfermeiro na assistência hemoterápica, em situações emergenciais relacionados ao trauma.