
A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma doença clínica e molecularmente heterogênea que requer uma estratificação de risco precisa para alcançar resultados ótimos de tratamento para os pacientes. A classificação de risco do grupo European LeukemiaNet (ELN) tem melhorado significativamente a sobrevida de adultos com LMA, permitindo tratamentos adaptados às mutações específicas dos pacientes. No entanto, uma parcela considerável desses pacientes não responde conforme o esperado, destacando que a classificação do ELN nem sempre reflete adequadamente a heterogeneidade da resposta clínica. Em 2024, Ortiz et al., avaliaram o transcriptoma de pacientes de cinco coortes de pacientes tratados com quimioterapia intensiva, desenvolvendo um índice de prognóstico, chamado de 4-PI, baseado na expressão de 4 genes (CYP2E1, DHCR7, IL2RA e SQLE).
ObjetivoNeste estudo, buscamos validar esse índice em uma coorte brasileira de pacientes adultos com LMA tratados uniformemente com o regime 3+7.
MétodosEm total, 111 pacientes com LMA de novo foram considerados neste estudo. Todos os pacientes foram diagnosticados e tratados em centros de referência em Recife, PE, Brasil (CAAE #47769821.7.0000.5208). O diagnóstico de LMA foi determinado por citomorfologia e estudos genéticos, de acordo com os critérios da OMS. Pacientes com leucemia promielocítica aguda, LMA relacionada à terapia ou com histórico prévio de síndrome mielodisplásica foram excluídos. Os níveis de transcrição dos 4 genes foram quantificados usando RT-qPCR e normalizados com dois genes endógenos (ACTB e HPRT1).
ResultadosComo primeira análise, os pacientes foram dicotomizados em grupos de baixo e alto 4-PI. A mediana de sobrevivência global de pacientes com alto 4-PI foi inferior ao grupo com baixo 4-PI (4,8 vs. 11 meses, Log-rank p = 0,042). Em seguida, dividimos os pacientes em três grupos (baixo, intermediário e alto) de acordo com a proposta original de Ortiz et al. As medianas de sobrevivência global foram de 22,3, 10,7 e 4,8 meses, respectivamente. Embora a comparação global dos três grupos não indicou diferenças (Log-rank p = 0,077), a análise de regressão de Cox mostrou que os pacientes com alto 4-PI têm um risco de morte superior ao grupo de baixo 4-PI (HR = 2,32, IC95% 1,04 – 5,23, p = 0,043). Adicionalmente, depois de considerar possíveis variáveis de confusão, como idade, sexo, número de leucócitos e a mutação FLT3-ITD, se mantiveram as diferenças entre os grupos de alto e baixo 4-PI (HR = 3,71, IC95% 1,39 – 5,70, p = 0,008). Posteriormente, observamos que os pacientes com alto índice tiveram uma taxa de remissão hematológica completa inferior comparada com os casos com 4-PI intermediário ou baixo, sendo de 52,1%, 70% e 76,6%, respectivamente (p = 0,042). Por fim, não observamos nenhum impacto na sobrevida livre de doença.
Discussão e conclusõesEstes resultados demonstram que o índice prognóstico 4-PI é uma ferramenta simples e efetiva para aprimorar a predição de sobrevivência global em pacientes com LMA, apresentando potencial para refinar a estratificação de risco e o manejo clínico desta doença. A validação do índice em uma coorte de vida real, diferente do trabalho original que trabalhou com pacientes dentro de estudos clínicos controlados, reforça a aplicabilidade e a utilidade clínica do 4-PI em contextos mais amplos e variados.