
As ectonucleotidases CD73 (NT5E) e CD39 (ENTPD1) desempenham papéis cruciais na modulação do ambiente extracelular, regulando a produção de adenosina e o crescimento celular em tecidos saudáveis. No contexto tumoral, essas enzimas são amplamente expressas e influenciam negativamente a atividade das células imunes promovendo um ambiente imunossupressor. Além disso, estão associadas a metástase, angiogênese e a um prognóstico desfavorável, principalmente através de mecanismos de evasão imunológica.
ObjetivoExplorar o papel das enzimas CD73/CD39 na Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) utilizando modelos murinos imunodeficiente (NSGS) e imunocompetente (C3H/HePas).
MetodologiaA linhagem celular murina BaF3 foi transformada para expressão ectópica permanente dos genes humanos IL7R CPT ou IL7R RRI (CPT e RRI caracterizam mutações oncogênicas neste gene), NT5E e ENTPD1, ou foram transformadas com IL7R CPT ou IL7R RRI mais o vetor com um repórter (CLOVER) para servirem de controle das ectoenzimas. As construções carregam o gene da luciferase como repórter. Experimento 1. Camundongos fêmeas (NSGS), de 4 a 5 semanas, receberam, por via intravenosa (IV), 1 × 106 células BaF3.hIL7Ra CPT/hCD73+/hCD39+ (Grupo High; n = 3) ou 1 × 106 células BaF3.hL7Ra CPT/hCD73-/hCD39-/Clover+ (Grupo Low; n = 3). Experimento 2. Camundongos machos (HePas) receberam (IV) 1 × 106 células BaF3.hIL7Ra RRI/hCD73+/hCD39+ (Grupo High; n = 5) ou 1 × 106 células BaF3.hIL7Ra RRI/hCD73-/hCD39-/Clover+ (Grupo Low; n = 5). A progressão da leucemia nos dois experimentos foi acompanhada por imagem em sistema IVIS Lumina (PerkinElmer) de bioluminescência, pela injeção de 150 μL de luciferina (15 mg/mL) por via subcutânea e analisados 15 minutos após a administração. A curva de sobrevida e os dados de quantificação das regiões de interesse (ROIs) foram analisados no software GraphPad Prism.
Resultados e discussãoNo Experimento 1, não observamos diferenças significativas na curva de sobrevida. No entanto, diferenças (p < 0,05) na progressão leucêmica no grupo High foram detectadas no D5 e D7 em relação ao Low. No último ponto de observação (D12) não foi detectado diferenças na infiltração, nem no tamanho dos órgãos. Outros fatores podem ser modulados ou mascarados à medida que a doença avança, tornando mais difícil observar diferenças significativas na fase final. No Experimento 2, a leucemia começou a ser detectada somente a partir do D42, isso pode estar associado ao fato de que a mutação IL7R RRI resulta em uma ativação mais moderada do receptor de IL-7, com menor proliferação celular e progressão mais lenta da doença. O grupo High apresentou taxa de pega mais rápida e uma sobrevida reduzida, com diferenças estatisticamente significativas (p = 0,05) em comparação ao grupo Low.
ConclusãoOs dados sugerem um efeito sinérgico das enzimas hCD73/hCD39 com o início do desenvolvimento da leucemia em ambos os modelos murinos. A ausência de diferenças significativas na fase final para o ensaio em NSGS pode refletir limitações do modelo experimental ou a complexidade da interação entre as enzimas e os mecanismos de progressão da doença mediada pelo IL7RCPT. Em contraste, no modelo imunocompetente, a alta expressão dessas enzimas parece promover um ambiente imunossupressor, acelerando a progressão leucêmica. Estes achados ressaltam a importância do CD73 e CD39 como alvos terapêuticos para melhorar a resposta imune e oferecem novos insights para o tratamento da LLA.