
Candida inconspicua pertence ao grupo de espécies fúngicas menos suscetíveis ao fluconazol. Desde 1980, a incidência global de candidíase invasiva por espécies não-albicans vem em ascensão, provavelmente devido à pressão seletiva pelo uso rotineiro de azóis como profilaxia em pacientes pós-transplante.
ObjetivoDescrever um caso de paciente pós transplante alogênico de células tronco hematopoéticas (TCTH) com neutropenia febril e crescimento de Candida inconspicua em hemocultura.
Relato de casoPaciente masculino, de 11 anos, com leucemia linfoblástica aguda refratária à quimioterapia, foi submetido a TCTH alogênico haploidêntico em 24/05/2022. A pega neutrofílica ocorreu no D+15. O paciente permanecia internado, em tratamento de encefalite por herpes vírus 6. No D+29 pós TCTH, apresentou febre. Neste dia, o paciente tinha contagem de neutrófilos > 500 e não estava em uso de corticoide. Foram coletadas hemoculturas de sangue periférico, de ambas as vias do cateter duplo lúmen cervical direito e do portocath, e foi iniciada antibioticoterapia de amplo espectro com meropenem e vancomicina (história prévia de encefalopatia por cefepime). Não havia outros sinais ou sintomas associados. Nas amostras do cateter duplo lúmen houve crescimento de células leveduriformes, em 11,76 e em 21,36 horas, sendo identificada Candida inconspicua. Tal cateter foi retirado e foi iniciado tratamento com Anfotericina B complexo lipídico. Após conhecimento do perfil de sensibilidade do fungo, o anti-fúngico foi substituído por Anidulafungina, administrada por 14 dias. As hemoculturas subsequentes, coletadas a cada 48 horas, resultaram negativas e houve resolução do quadro febril. Candida inconspicua pertence ao grupo de espécies fúngicas menos suscetíveis ao fluconazol. Estudo publicado em 2013 mostrou uma série de onze casos de fungemia por esta espécie de Candida, sendo seis destes casos em pacientes em tratamento para leucemia aguda e dois transplantados hepáticos, mas nenhum caso em paciente submetido a transplante alogênico de células tronco hematopoiéticas. Em 1998, foram descritos dois casos de fungemia relacionada ao cateter por Candida inconspicua, também em pacientes com leucemia aguda como doença de base. Na nossa instituição, não houve identificação de C. inconspicua previamente em pacientes com este perfil. Este relato ilustra um caso de fungemia por Candida inconspicua em paciente pós-TCTH, o que, pelo nosso conhecimento, ainda não havia sido descrito previamente na literatura.