
Descrever os aspectos demográficos e socioeconômicos, além das características educacionais dos egressos de uma coorte de 35 anos de um programa de residência em Hematologia no Brasil, relacionando tais fatores com a carreira profissional seguida após o término da residência.
Material e MétodosTrata-se de um estudo transversal desenvolvido com uma coorte de ex-alunos de um programa de residência em Hematologia em São Paulo. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário criado na plataforma REDCap. Sequencialmente, os dados foram extraídos da plataforma REDCap e analisados com auxílio do Softaware SPSS versão 20.0.
ResultadosA taxa de resposta foi de 86/98 (87,8%). A idade média ao término da residência foi de 28,5 anos, 60,5% dos egressos eram do sexo feminino e 74,4% se autodeclararam brancos. A maior parte dos egressos tinham pais com formação superior e não eram mantenedores de sua família, características essas que se mantiveram estáveis ao longo dos anos. Ao longo do tempo, a proporção de residentes procedentes de outros estados teve um acréscimo de mais de 60% enquanto o quantitativo de egressos atuando em outros estados se manteve estável. Quase metade dos egressos (46,5%) referiram atuar tanto no serviço público quanto privado, sendo a área prioritária de atuação a Hematologia maligna e o cenário de prática mais citado sendo a atendimento ambulatorial. Um quarto dos egressos ainda declararam desenvolver atividades de ensino e já terem ocupado posições de liderança, especialmente como diretores de serviços de transfusão.
DiscussãoAssim como a tendência nacional dos programas de residência médica, a maior parte dos nossos participantes eram do sexo feminino. Esse dado converge com o processo de feminização observado no Brasil a partir de 2009. Contrastando com a entrada precoce de 44,2% dos jovens brasileiros no mercado de trabalho informal aos 14 anos, o treinamento necessário à formação do hematologista o leva a seguir carreira profissional por volta dos 28 anos. De acordo com a estatística nacional, 42,7% da população brasileira se autodeclara não-branca, dado que confronta os da nossa pesquisa, onde observamos que a maioria (74,4%) se autodeclarara branca, reforçando a desigualdade ao acesso às escolas médicas no Brasil. Similarmente ao visto nos EUA, a idade média de acesso ao programa de residência em onco-hematologia é semelhante ao nosso, contudo diferente do observado lá, apenas 22% dos participantes do nosso estudo contribuíam financeiramente com a família. O fato de apenas um quarto dos egressos trabalharem exclusivamente no serviço público e serem eles os responsáveis pelo atendimento de 70% da população, ressalta a falta de incentivos e de carreiras atrativas no setor público. No tocante as preferências de atuação, a hematologia maligna e benigna tanto refletem o mercado de trabalho brasileiro para o hematologista quanto é uma característica do programa formador.
ConclusãoNossos resultados trazem uma visão abrangente, englobando um período de 35 anos de dados demográficos, socioeconômicos e carreira profissionais de graduados de um programa de residência médica de um serviço de referência que pode contribuir para o planejamento e a avaliação da formação do hematogista no Brasil.