HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Esferocitose Hereditária (EH) é uma Anemia Hemolítica (AH) congênita causada por defeitos nas proteínas do citoesqueleto da membrana dos eritrócitos, resultando na formação de esferócitos e destruição precoce dessas células no baço. As formas autossômicas dominantes estão frequentemente associadas aos genes SPTB (β-espectrina) e ANK1 (Anquirina). A apresentação clínica varia, e os exames laboratoriais nem sempre são conclusivos. Nesses casos, o Sequenciamento de Nova Geração (NGS) tem se mostrado útil para confirmar o diagnóstico e orientar condutas.
Descrição do caso: ObjetivoRelatar caso de pac tratada como AH autoimune, no qual investigação genética revelou mutação no gene SPTB, variante NM_001355436.2:c.3203A>G:p. (Gln1068Arg), de significado clínico indeterminado, em heterozigose. MM: Pac mulher, 49 anos, avaliada por anemia hemolítica autoimune diagnosticada há 4 meses, uso de ácido fólico e prednisona 40 mg (sem resposta). De antecedentes, tinha cirurgia bariátrica. EF: fácies cushingóide, descorada 2+/4, icterícia +/4, sem outras alterações. Laboratorialmente, trazia HMG com Hb 9,1 VCM 106 RDW 13.9 (macrocitose) Leucóc 13550 neutróf 8889 eosino 54 basófilos 54 linfóc 3604 plaquetas 177.000 reticul 227.000 reticul 8.1% TAD negativo PAI negativo EFH A1 97.4% A2 2.3% Fetal 0.3% ferritina 697 saturação 28.46% EFP ausente bilirub ind 1,46 DHL 265 (246) vitamina B12 1333 ácido fólico 17.05. Optado por revisitar e ampliar investigação diagnóstica, desmame de corticóide em razão do tratamento sem resposta (dose usada +-0.7 mg/kg/dia), e improvável AHAI coombs negativa. De relevante, mantinha padrão hemolítico, sangue periférico com raros esferócitos com intensa policromasia Hb 9,3 VCM 113), e a paciente apresentava queda de Hb em quadros infecciosos (fez ITU de repetição). Laboratorialmente, tinha deficiência de cobre que foi tratada sem melhora da hemólise, B12, folato e perfil do ferro normais, TAD IgG, IgA, IgM, C3c e C3d negativos. Descartado eritroenzimopatia, paciente não conseguiu realizar teste da resistência globular por indisponibilidade e optamos por realizar painel genético para anemias hemolíticas congênitas (44 genes analisados) em laboratório de referência, cujo resultado identificou uma mutação do gene SPTB em heterozigose (42,19%), classificada como de significado clínico indeterminado. Paciente segue estável, chegou a normalização de Hb, e apresenta episódios de hemólise leve em quadros infecciosos.
DiscussãoO caso ilustra uma paciente com hemólise persistente e Coombs negativo, inicialmente tratada como AHAI, com períodos de hemólise relacionados à infecção. A presença da mutação no gene SPTB, variante NM_001355436.2:c.3203A>G:p.(Gln1068Arg), embora considerada de significado clínico indeterminado, tem relação etiopatogência com EH pois o gene SPTB codifica a espectrina beta e mutações podem levar à degradação do mRNA ou produção de proteínas defeituosas, gerando hemólise. Mesmo sendo uma variante de significado incerto, o contexto clínico favorece a relevância diagnóstica. Ademais, nenhuma outra causa de hemólise foi identificada.
ConclusãoA mutação identificada reforça a importância da análise genética na investigação de anemias hemolíticas, permitindo diagnóstico mais preciso, terapias ineficazes e com efeitos adversos graves, com possível ampliação de banco de dados genéticos e melhor entendimento etiopatogênico da doença.




