
O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de evolução de síndrome mielodisplásica para leucemia mielóide aguda, diagnosticada através de biópsia de lesão intraoral de sarcoma mielóide.
Material e MétodosTrata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, do tipo relato de caso. Os dados foram coletados através dos registros em prontuários eletrônico e físico da instituição.
ResultadosO caso apresentado envolveu um paciente do sexo masculino, de 51 anos, melanoderma, matriculado na instituição devido ao diagnóstico de síndrome mielodisplásica, tratado com 19 ciclos de decitabina. Devido a um quadro de odontalgia e abscessos de repetição o paciente foi encaminhado ao setor de Odontologia onde, durante o exame clínico, foi constatada presença de lesão eritematosa, amolecida, friável, de superfície lisa, base séssil, de aproximadamente 3 × 1cm na região distopalatina do dente 26. No exame radiográfico, foi observada imagem radiopaca associada à raiz mesial do dente 26, com margens definidas. Foi realizada biópsia excisional da lesão em região de palato com caráter de urgência e as hipóteses diagnósticas iniciais foram de granuloma piogênico e cisto radicular. O laudo histopatológico foi compatível com quadro de sarcoma mielóide comprometendo mucosa, com imuno-histoquímica positiva para CD34 e CD117 e negativa para CD163 e TdT. Diante do diagnóstico prévio de síndrome mielodisplásica, associado ao diagnóstico de sarcoma mielóide oral, a equipe médica constatou a transformação da doença inicial em leucemia mielóide aguda. Foi definido novo protocolo terapêutico e realizado um ciclo de citorredução com Citarabina (ara-C) subcutâneo e resgate com hidroxiureia + ara-c (HYDAC) + idarrubicina. Durante este ciclo, o paciente foi diagnosticado com Covid-19, evoluindo para óbito, não concluindo portanto, o protocolo terapêutico proposto.
DiscussãoO diagnóstico de sarcoma mielóide oral permitiu que a equipe multiprofissional detectasse a transformação da doença primária em leucemia mielóide aguda, resultando na reformulação do tratamento e conduta do caso. O prognóstico da leucemia mielóide aguda secundária à síndrome mielodisplásica é pior quando comparado às primárias, bem como, apresenta baixas taxas de remissão após quimioterapia intensiva e a sobrevida global mediana de 9-12 meses. O diagnóstico dessas lesões por parte do cirurgião-dentista é considerado um desafio, visto que são raras em cavidade oral e as apresentações clínicas costumam ser variadas e inespecíficas.
ConclusãoO presente relato de caso evidencia a importância de uma avaliação clínica minuciosa e do diagnóstico preciso e completo de lesões orais, que podem implicar diretamente na definição da doença de base, tratamento e prognóstico do paciente. Além disso, ratifica a importância do cirurgião-dentista na prática clínica e na atuação profissional de forma interdisciplinar e integrada com a equipe de saúde.