
Descrever e discutir sobre o Transplante de Medula Óssea (TMO) no Quênia e no continente africano, com base na experiência de um estudante de medicina que participou de um intercâmbio no país.
Materiais e métodosRelato de experiência de um estudante de medicina, complementado por uma revisão de literatura nas bases de dado PubMed e EMBASE, além de notícias locais sobre tratamento de neoplasias hematológicas e TMO no território queniano e nos países adjacentes.
ResultadosO intercâmbio do atual artigo teve duração de um mês e foi intermediado pela Federação Internacional de Estudantes de Medicina (IFMSA). Trata-se de um intercâmbio observacional que ocorreu no Kenyatta National Hospital, o maior hospital do Oeste da África e um importante ponto de assistência para a região do continente. Foi observada a atuação das equipes de dor e cuidados paliativos e hematologia do hospital. Nesse contexto, foi observada a falta do TMO como opção terapêutica e uma grande quantidade de pacientes portadores de neoplasias que se beneficiariam do procedimento; um estudo de 2012 indicou que 57% dos cânceres pediátricos do país eram hematológicos, incluindo linfoma de Hodgkin (8%), linfoma não-Hodgkin (34%) e leucemia linfoblástica (15%). O Quênia vive uma triste realidade sobre o tratamento das neoplasias em geral. Apesar de ser um dos países mais economicamente desenvolvidos do continente, cerca de dois terços dos pacientes morrem nos dois primeiros anos após o diagnóstico de câncer, sendo uma parte desse número devido à falta de disponibilidade de TMO. Foi relatado também um êxodo de pacientes com melhores condições financeiras para países como Egito, África do Sul e Índia para realização do procedimento, o que atesta a desigualdade de acesso à essa tecnologia.
DiscussãoO primeiro transplante de medula ocorreu nos Estados Unidos na década de 1950, desde esse momento, o procedimento se espalhou mundialmente e vem salvando vidas desde então. Um número relevante de doenças hematológicas, oncológicas e autoimunes podem ser tratadas ou melhoradas com o TMO. Apesar de toda essa importância, apenas em 2022 o primeiro transplante de medula foi realizado em um hospital particular de Nairóbi, a capital do Quênia. Desde então, este hospital é o único no território a oferecer o procedimento, que tem um custo extremamente inacessível de 20 a 30 mil dólares e conta com apenas seis leitos disponíveis. Como resultado, o transplante de medula óssea permanece uma opção de tratamento inviável para a maioria dos pacientes devido à fatores socioeconômicos.
ConclusãoMesmo que já realizado um primeiro transplante no país em 2022, e de sua reconhecida importância, a população que necessita de TMO não é assistida efetivamente. Portanto, é necessário que o governo, em conjunto com uma ajuda global, invista em departamentos especializados e no treinamento médico para melhorar o acesso ao TMO para pacientes quenianos e da região Oeste da África.