
A Doença Falciforme (DF) é um distúrbio hematológico de herança autossômica que gera a produção de hemoglobina anormal, resultando em glóbulos vermelhos deformados e disfuncionais. Afeta o desenvolvimento físico, esquelético e sexual e pode culminar em distúrbios psicológicos, como ansiedade e depressão. A depressão é a mais frequente e decorre da cronicidade e do sofrimento da patologia, que podem resultar em retração social e dificuldades nas atividades laborais ou escolares. Objetiva-se descrever a prevalência de depressão em pacientes com DF e o seu impacto sobre a qualidade de vida.
MetodologiaTrata-se de revisão de literatura baseada na base de dados Medical Analysis And Retrieval Online (Medline) via Pubmed, e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) via Lilacs. Utilizou-se os Descritores em Ciências da Saúde (DECS): Depression“, Anemia“ e Sickle Cells“, com o operador booleano AND‘. Aplicou-se filtro de pesquisa para Title/Abstract“ na base Pubmed e o filtro Título, resumo e assunto“, com o filtro de temas depressãoe transtorno depressivo maior“ na base Lilacs. Selecionou-se estudos publicados nos últimos 5 anos, sem filtro para tipos de literatura. Encontrou-se 30 artigos nas línguas inglesa e portuguesa antes da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Foram incluídos artigos que abordassem a relação de prevalência entre a depressão e a anemia falciforme. Foram excluídos 7 artigos que não abordavam o tema (como depressão materna e experimentos com opioides), 5 artigos não disponibilizados para leitura e 2 artigos duplicados. Após a revisão pelos pares, 16 artigos foram selecionados para análise.
ResultadosA prevalência de depressão entre crianças e adolescentes com DF varia, com estudos indicando taxas de 6,3%, 34,2% e entre 4% e 46%. Entre adultos, os valores reportados são 39%, 44%, 47% e 50%, com 27,8% no estudo de menor taxa de prevalência e 85,6% no estudo com a maior taxa de prevalência. A escala Patient Health Questionnaire (PHQ-9) é frequentemente utilizada nos estudos.
DiscussãoPesquisas com crianças, adolescentes e adultos com DF evidenciam alta prevalência de sintomas sugestivos de depressão nessas faixas etárias. Adolescentes com DF têm maior probabilidade de apresentar sintomas depressivos devido a fatores estressores da adolescência e questões relacionadas à doença, como puberdade tardia, baixa estatura, fadiga e úlceras nos membros inferiores. Nas crianças, episódios de dor intensa elevam o risco de depressão, enquanto o maior suporte parental o diminui. Não há consenso sobre a associação entre gênero ou baixa escolaridade e níveis de sintomas depressivos. No entanto, alguns estudos indicam que um elevado número de hospitalizações pode predispor à depressão. A depressão pode levar a baixa adesão ao tratamento, aumento da dor, maior uso dos serviços de saúde e de medicamentos, além de morte prematura. Isso demonstra a necessidade de se reconhecer os preditores da depressão em pacientes com DF para que eles sejam acompanhados por uma equipe multidisciplinar que ofereça cuidado abrangente que melhore a sua qualidade de vida.
ConclusãoCom o estudo, infere-se que pacientes que possuem DF têm maior probabilidade de apresentar sintomas sugestivos de depressão. Por isso, é importante que os profissionais da saúde estejam atentos a condições que possam predispor esse quadro, a fim de que o paciente receba acompanhamento integral e tenha melhora em sua qualidade de vida.