
Durante o o curso de graduação em medicina poucas são as oportunidades que os estudantes têm de debaterem questões como morte, cuidados paliativos e dilemas éticos. A percepção cultural de que os médicos são super heróis dificulta a aceitação, por parte da maioria, de que em muitas situações não como evitar desfechos negativos em relação a evolução clínica dos pacientes. O desafio de Kobayashi-Maru, apresentado no filme Jornada nas Estrelas - a ira de Khan, é uma forma interessante e lúdica de trabalhar essas questões em sala de aula. Este é um relato de experiência.
Materiais e métodosO professor da disciplina de hematologia elaborou um caso clínico fictício e distribui para os alunos. O paciente fictícío era portador de um tipo de leucemia refratária ao uso dos quimioterápicos clássicos e que a chance de sucesso de um transplante de medula era ínfima, enquanto a possibilidade de morrer por conta do procedimento era significativa. Nesse caso, se o paciente realizasse apenas o tratamento paliativo ele teria uma sobrevida de 6 meses. Para complicar ainda mais o caso, a esposa dele estava grávida e não queria que o marido tentasse o transplante pois, apesar de lhe restarem poucos meses de vida, ele ainda teria chance de conhecer o filho antes de partir. Já a mãe do paciente queria que o filho realizasse o procedimento, pois acreditava que qualquer chance de sucesso valia a pena. Para os alunos foram dados o desafio de tentar encontrar uma solução onde todos os integrantes desse núcleo familiar saíssem satisfeitos. Os alunos não tinham o conhecimento que não havia solução para o dilema.
DiscussãoCinquenta alunos participaram da atividade. Ao tentar encontrar a solução para esse dilema médico, os alunos realizaram diversas linhas de pesquisa e se depararam com questionamentos fundamentais que tangenciam assuntos como: morte, ética médica, direitos legais do paciente, diálogo com os familiares, conduta humanizada, dentre outros. Após as respostas serem entregues, todos se reuniram em uma sala para discutir as diferentes perspectivas e soluções para um dilema médico tão complexo. Nenhum aluno, inicialmente, compreendeu que não havia solução sendo que 40 (80%) não aceitaram o fato de perder a batalha para a doença, 6 (12%) assumiram que iriam burlar seus princípios éticos para solucionar o caso e 4 (8%) preocuparam-se mais com o bem-estar da esposa.
ConclusãoAo abordar temas essenciais para a formação médica utilizando-se de referências que se situam no contexto sociocultural dos estudantes de medicina - compostos em sua maioria de adultos jovens é possível aumentar ainda mais o interesse dos alunos em discutir e refletir sobre dilemas que certamente serão vividos pela maioria durante sua atuação como médicos.