
O diagnóstico de deficiência de ferro pode ser particularmente desafiador em pacientes com condições inflamatórias agudas ou crônicas, pois muitos marcadores bioquímicos do metabolismo do ferro, como a ferritina sérica, podem ser influenciados pela reação de fase aguda. Devido a isso, há um crescente interesse na utilização de parâmetros relacionados a eritrócitos e reticulócitos disponíveis em analisadores hematológicos modernos, como o RET-He. Esse parâmetro pode ajudar na detecção precoce de condições clínicas como deficiência de ferro (absoluta ou funcional) e eritropoese ineficaz. Adicionalmente, a aspiração de medula óssea é considerada o padrão-ouro para avaliar as reservas de ferro na medula óssea.
ObjetivoInvestigar a correlação entre a dosagem de RET-He, o ferro medular e a ferritina sérica em pacientes com análise de ferro medular.
MétodosForam analisados os dados de 132 pacientes submetidos à pesquisa de ferro medular. Utilizou-se a coloração azul da Prússia (de Perl) para corar a medula óssea. Dentre essas 132 análises, 40 não apresentaram ferro no interstício medular ou havia apenas traços, enquanto 92 mostraram a presença de ferro no interstício medular. Em todos os casos, foi realizada a dosagem do parâmetro RET-He no sangue periférico. Dentre esses 132 pacientes, 47 apresentaram dosagem de ferritina sérica, cujos dados também foram utilizados para análise estatística. Para fins estatísticos, considerou-se os seguintes valores de corte: RET-He (30,1 pg a 38,0 pg); ferritina (homens – 26 a 446 μg/L; mulheres – 15 a 149 μg/L).
ResultadosNa análise estatística, observou-se que, entre os pacientes que não apresentaram depósito de ferro ou apresentaram traços no interstício medular, apenas 10 tinham RET-He < 30,1 pg, indicando que 25% dos casos apresentaram correlação direta entre RET-He e ausência de ferro medular. Entre os pacientes com presença de ferro no interstício medular, 15 apresentaram RET-He < 30,1 pg, demonstrando que, nesses casos, houve uma correlação direta entre RET-He e presença de ferro medular em 84% dos casos. A ferritina sérica dosada em 15 pacientes com traços ou ausência de ferro medular estava abaixo do valor de referência em apenas 2 casos, permitindo estabelecer uma correlação entre ausência de ferro medular e ferritina em apenas 13,3% dos casos analisados.
DiscussãoOs resultados deste estudo mostram uma fraca associação entre a dosagem de RET-He e as reservas de ferro medular, com uma relação entre baixos níveis de RET-He e a ausência de ferro medular identificada em apenas 25% dos casos. Da mesma forma, a conexão entre a ferritina sérica e a ausência de ferro medular foi limitada, com uma correspondência estabelecida em apenas 13,3% dos casos.
ConclusãoEsses achados sugerem que tanto o RET-He quanto a ferritina sérica podem ter limitações significativas na detecção precisa da deficiência de ferro medular. Portanto, é recomendável considerar outros métodos diagnósticos ou parâmetros adicionais para uma avaliação mais completa e precisa das reservas de ferro na medula óssea.