
Anticoagulantes orais diretos (DOACs: direct oral anticoagulants) são indicados na profilaxia primária e secundária de eventos aterotrombóticos e agem como inibidores do fator Xa (Rivaroxabana, Apixabana e Edoxabana) e inibidores da trombina (Dabigatrana) na cascata de coagulação. Considerando que o seu uso está cada vez mais frequente na população e que, até o momento, existem poucos estudos acerca do manejo odontontológico em pacientes que usam tais medicamentos, o objetivo desse estudo foi avaliar o conhecimento dos cirurgiões dentistas (CDs) sobre os DOACs.
Matériais e MétodosEstudo transversal com 327 CDs do estado de Minas Gerais, no ano de 2021, sendo que o nível de expertise dos participantes referente ao uso de DOACs foi avaliado por meio da análise de dados obtidos de um questionário (Google forms) respondido pelos CDs. Esses profissionais foram categorizados de acordo com as áreas de atuação que realizam maior número de procedimentos invasivos, i.e., implantodontia, cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, e periodontia (grupo 1) e foram comparados com as demais especialidades (grupo 2). A análise de regressão logistica binária foi realizada no SPSS (ver.19.0), com nível de significância < 0,05.
ResultadosDentre os 327 CDs, 70 eram do grupo 1 e 257 do grupo 2. Em relação ao conhecimento sobre os DOACs, os CDs do grupo 1 apresentaram uma chance 9,39 vezes maior de ter conhecimento suficiente, quando comparados com os CDs do grupo 2 (IC 95%: 3,42-25,76). Ao serem questionados sobre a interrupção do uso dos DOACs, caso os tempos de coagulação e de sangria estivessem dentro dos valores de referência, a maioria dos CDs responderam “não”em ambos os grupos, não havendo diferença significativa entre os mesmos (IC 0,68-1,99).
DiscussãoAtualmente, um número crescente de pacientes fazem uso de tratamento antitrombótico valendo-se dos DOACS, os quais apresentam algumas vantagens em relação à varfarina. Porém, os pacientes em uso de DOACs necessitam de um maior cuidado durante o atendimento odontológico envolvendo procedimentos invasivos, já que exames laboratoriais para investigar o perfil hemostático desses pacientes ainda não estão disponíveis. Conforme esperado, nosso estudo demonstrou que profissionais que realizam maior número de procedimentos invasivos possuem maior conhecimento em relação aos DOACs. Por outro lado, é preocupante o fato de que os CDs que atuam nas demais áreas tenham conhecimento limitado em relação ao uso destes medicamentos, visto que o número de pacientes que utilizam DOACs tem aumentado cada vez mais. Tal fato vem reforçar a necessidade de maior conhecimento sobre os DOACs e suas implicações no tratamento odontológico, proporcionando um melhor manejo clínico aos seus pacientes.
ConclusãoNosso estudo revelou que os CDs que realizam maior número de procedimentos invasivos apresentam maior conhecimento em relação aos DOACs, em comparação àqueles que não realizam tais procedimentos.
Apoio financeiroCAPES, CNPq e FAPEMIG.