
Distúrbios na coagulação é uma das alterações presentes em pacientes com COVID-19 grave, como aumento no tempo de protrombina e trombocitopenia, podendo estar associado com o mau prognóstico.
ObjetivoVerificar a relação entre os biomarcadores de coagulação e inflamação com a gravidade da COVID-19. Material e Métodos: Trata-se de um estudo transversal com 52 pacientes adultos, positivos para SARS-CoV-2 e residentes em uma região da Amazônia Legal (São Luís/MA), coletados durante o período março a setembro de 2020 dos quais coletou-se dados sociodemográficos (idade, óbito e sexo), hospitalares (resultado do teste de molecular para COVID-19, local de internação – enfermaria ou unidade de tratamento intensivo-UTI) e laboratoriais (Hemograma, Tempo de Protrombina-TAP, Atividade de Protrombina, Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado-TTPA, Proteína C Reativa-PCR, Interleucina 6-IL6 e Interleucina 1-IL1). Os participantes deste estudo foram divididos pelo local de internação (enfermaria ou UTI), ou seja, em dois grupos. Os dados foram analisados pelo teste de normalidade de Shapiro-Wilk e pelo teste de Mann-Whitney para amostras independentes; para avaliar o poder de predição das variáveis significativas no teste univariado foi utilizado a área sob a curva de funcionamento do receptor (ROC). Os testes foram realizados no programa estatístico IBM SPSS versão 24, com nível de significância de 0,05.
ResultadosA mediana de idade dos participantes foi de 54 anos (95% IC 40,25‒67,00), com predominância do sexo masculino (59,6%) e 17,31% de óbitos. A mediana da PCR foi maior no grupo UTI (6,13; 95% IC 3,34‒13,71 versus 4,28; 95% IC 1,41‒11,11; p > 0,05), o TTPA demonstrou maior valor mediano no grupo UTI (27,70; 95% IC 23,90‒32,5 versus 25,25; 95% IC 22,85‒26,82; p < 0,05), da mesma forma o TAP apresentou maior valor de mediana no grupo UTI (13,30; 95% IC 12,30‒14,25 versus 12,30; 95% IC 11,60‒12,80; p < 0,05). A Atividade de Protrombina demonstrou maior valor mediano no grupo da enfermaria (91,50; 95% IC 84,50‒100 versus 83,40; 95% IC 71,90‒96,10; p > 0,05). A contagem de plaquetas também apresentou maior valor mediano no grupo da enfermaria (379,5×103; 95% IC 310,25‒453 versus 193,5×103; 95% IC 193,5‒400,25; p < 0,05). A IL6 obteve maiores níveis séricos de mediana no grupo UTI (2,69; 95% IC 1,34‒6,65 versus 1,17; 95% IC 0,37‒3,39; p < 0,05), assim também a IL1 apresentou maior valor de mediana no grupo UTI (359,12; 95% IC 232,1‒659,2 versus 152,14; 95% IC 120,74‒553,55; p < 0,05). No que se refere a predição desses pacientes estarem em leito de UTI ou Enfermaria, as únicas variáveis capazes de predizer o desfecho de acordo com a curva ROC, foram o TAP (Área sob a Curva = 0,732), IL6 (Área sob a Curva = 0,762) e IL1 (Área sob a Curva = 0,752) sendo considerados bons preditores (AUC > 0,700).
DiscussãoA cascata de coagulação é ativada como reposta à infecção, sendo um sistema de defesa do organismo para evitar a propagação de patógenos, como o SARS-CoV-2. Contudo, se há uma ativação de coagulação exacerbada pode ocorrer um quadro de trombose com possíveis depleções de fatores de homeostasia e sangramento secundário. Além disso, a alta expressão de citocinas como a IL1 e IL6 pode resultar em danos em órgãos através da exacerbação da coagulação.
ConclusãoDiante dos resultados expostos sugere-se que tanto os exames de coagulação como os biomarcadores inflamatórios devem ser considerados simultaneamente na avaliação da gravidade da COVID-19, podendo auxiliar no prognóstico do paciente.