
O linfoma tipo Mucosa Associated Lymphoid Tissue (MALT) é uma neoplasia primária do tipo não-Hodgkin derivada do tecido linfoide presente na mucosa e não relacionado aos linfonodos. Cerca de 50% dos casos desse tipo de neoplasia ocorrem no estômago, tendo como características clinicopatológicas se relacionarem ao surgimento do tecido linfoide associado à mucosa gástrica em resposta a estímulos antigênicos e a agressões ao epitélio do orgão, ambos comuns na infecção pela bactéria Helicobacter pylori. O protocolo R-CHOP é um regime de quimioterapia amplamente utilizado para tratar certos tipos de linfoma não-Hodgkin. Há poucas contraindicações do uso deste esquema terapêutico pelo baixo risco cardiotóxico em pacientes sem restrição à esses medicamentos, principalmente quando jovens e sem cardiopatia prévia.
ObjetivoRelatar um caso de bloqueio de ramo direito persistente provocado após esquema R-CHOP em paciente de 38 anos previamente hígida, em tratamento de linfoma não Hodgkin tipo MALT.
MétodoA pesquisa foi realizada com base em dados fornecidos pela participante da pesquisa, bem como revisões em prontuários fornecidos pela Instituição envolvida. O tempo necessário foi durante a internação até a alta, tendo sido realizado contato com a participante e/ou seus familiares quando necessário.
Relato de CasoMulher, 38 anos, com diagnóstico de gastrite por H. Pylori, queixou-se de dor epigástrica de repetição associada a perda ponderal e fadiga há 4 anos. Foi submetida a endoscopia que revelou lesão com suspeita de neoplasia em antro gástrico. À biópsia da área afetada associada a imunohistoquímica, foi diagnosticado linfoma não-Hodgkin do tipo MALT. Iniciou-se tratamento quimioterápico com o protocolo RCHOP, durante o qual a paciente relatou piora da fadiga, sendo observada frequência cardíaca e pressão arterial reduzidas. Foi submetida a eletrocardiograma após a quimioterapia, sendo diagnosticado bloqueio de ramo direito grau 1 persistente. Posteriormente, foi efetuado ecodopplercardiograma transtorácico com resultados normais. Paciente atualmente hígida, em manejo do quadro neoplásico anterior.
DiscussãoA literatura documenta presença de risco de lesão cardíaca pelo uso da doxorrubicina, droga de ação dose dependente. As 2 principais lesões decorrentes deste esquema quimioterápico são a cardiomiopatia e insuficiência cardíaca descompensada. São fatores de risco para o desenvolvimento destas complicações o sexo feminino; a dose cumulativa maior que 400 mg/m2; o uso concomitante de outros quimioterápicos cardiotóxicos como a ciclofosfamida; radioterapia prévia; rápida infusão da medicação, extremos de idade e doenças prévias com comprometimento cardiovascular.
ConclusãoConclui-se imprescindível uma busca ativa minuciosa do histórico do paciente oncológico em busca de doenças cardiovasculares prévias. Diante de esquema quimioterápico que contemple a doxorrubicina, é recomendado rastreamento precoce de lesão miocárdica, dando preferência à troponina ultrassensível ou técnica do Global Longitudinal Strain sobre a ecocardiografia. Sempre que identificado dano miocárdico, deve-se intervir precocemente com tratamento adequado e acompanhamento cardiológico de longa duração, pois estas lesões tendem a permanecer a longo prazo.