
As leucemias agudas compreendem um grupo de neoplasias hematológicas de mau prognóstico originadas de células progenitoras da medula óssea que carregam alterações moleculares. As altas taxas de mortalidade e recidiva tornam imperativa a pesquisa de novas opções terapêuticas. A eribulina é um inibidor de microtúbulos atualmente usado na terapia do câncer de mama metastático resistente a taxanos e antraciclinas, e seus efeitos nas leucemias agudas têm sido pouco explorados. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos celulares e moleculares da eribulina no fenótipo leucêmico, usando um amplo painel, molecularmente heterogêneo, de linhagens celulares de leucemia aguda.
Material e MétodosUm painel contendo 13 linhagens celulares de neoplasias mieloides e 12 linfoides foi utilizado para ensaios iniciais de viabilidade celular, além de células mononucleares de sangue periférico (CMSP) de três doadores saudáveis. As linhagens celulares NB4, NB4-R2, OCI-AML3, MOLM13, Jurkat e Namalwa foram selecionadas para análises detalhadas adicionais. As células foram tratadas com concentrações crescentes de eribulina (0-100 nM). A viabilidade celular foi avaliada por MTT, clonogenicidade por ensaio de formação de colônias, apoptose por marcação com anexina-V/7AAD e citometria de fluxo, ciclo celular por marcação com iodeto de propídio e citometria de fluxo e morfologia celular por coloração H&E e microscopia óptica. Marcadores moleculares de proliferação (STMN1), apoptose (PARP1) e dano ao DNA (p-H2AX) foram investigados por Western Blot. As análises estatísticas foram realizadas por ANOVA e pós-teste de Bonferroni. Um valor de p < 0,05 foi considerado significativo.
ResultadosA eribulina apresentou alta citotoxicidade em células malignas do sangue, apenas 5 das 25 células foram consideradas resistentes à droga (IC50 > 100 nM). As células sensíveis à eribulina apresentaram citotoxicidade dependente da dose e do tempo (IC50 variou de 0,13 a 12,12 nM em 72 h). Em leucócitos normais (CMSP), a IC50 não foi alcançada (IC50 > 50 μM) nas concentrações testadas. Em células de leucemia aguda, a eribulina diminuiu significativamente a clonogenicidade à exposição a longo prazo, e foi capaz de induzir apoptose, acúmulo de células em subG1 e parada do ciclo celular na fase G2/M após 48 h de exposição ao fármaco (todos p < 0,05). As análises morfológicas indicaram aberrações mitóticas nas células tratadas. No cenário molecular, a eribulina reduziu a expressão e a atividade de STMN1 e induziu a fosforilação de PARP1 e H2AX (todos p < 0,05).
DiscussãoNossos resultados mostraram que a eribulina reduziu a viabilidade de células de leucemia aguda, mas não de leucócitos normais, sugerindo seletividade para células sanguíneas malignas. O tratamento com eribulina induziu acúmulo de células em subG1 e parada nas fases G2/M e a análise morfológica indicou mitose aberrante, o que corrobora os achados do ciclo celular. Molecularmente a eribulina reduziu a expressão e a atividade de STMN1 e induziu a fosforilação de PARP1 e H2AX, indicando redução da proliferação celular, apoptose e dano ao DNA. Portanto, a eribulina é capaz de perturbar a dinâmica de microtúbulos e levar ao colapso mitótico e morte celular.
ConclusãoEm resumo, nosso estudo apresentou a eribulina como uma provável nova opção terapêutica em neoplasias hematológicas. Estudos sobre mecanismos de resistência e testes in vivo são de interesse.
FinanciamentoFAPESP, CNPq e CAPES.