
A doença de Hodgkin (DH) caracteriza-se por ser uma malignidade dos linfócitos B, que se tornam grandes, multinucleadas, com duplo núcleo e inseridos em um microambiente rico em elementos figurados do sistema imune e seus efetores. A doença ainda tem sua etiologia desconhecida, porém é postulado que o vírus Epstein barr cumpra algum papel na sua patogênese. Com relação a estudos populacionais que elencam características clínicas do curso da doença, é presente no meio científico dados acerca de populações com ancestralidade europeia, população europeia e estadunidense propriamente dita e algumas referências nacionais que se limitam a análise da dados das regiões sul e sudeste do país, o que deixa a desejar no tocante ao estudo populacional de características clínicas e epidemiológicas em uma amostra que não seja esta. Sendo assim, o presente estudo se assenta no pragmatismo e na objetividade e se debruça sobre a análise de dados epidemiológicos da doença de Hodgkin em um hospital universitário na região metropolitana do Recife, tendo por objetivo definir aspectos epidemiológicos e clínicos de pacientes diagnosticados com linfoma de Hodgkin que foram admitidos e tratados no Hospital das Clínicas da UFPE, caracterizando os achados histológicos ao diagnóstico, determinando as características epidemiológicas e clínicas, caracterizando os tratamentos realizados nos pacientes, definindo os pacientes com refratariedade, definindo os pacientes encaminhados a transplante de medula óssea e analisando os desfechos clínicos após o tratamento. Este é um estudo observacional, transversal, descritivo e retrospectivo, de todos os pacientes com diagnóstico de DH atendidos e acompanhados no Serviço de Hematologia do HC - UFPE de janeiro de 2017 a agosto de 2021. Os dados clínicos de cada paciente foram coletados, retrospectivamente, através dos registros médicos dos prontuários do serviço (físico e eletrônico) durante o atendimento nos ambulatórios e das enfermarias. A amostra dos pacientes é composta por todos os pacientes adultos atendidos no ambulatório de Hematologia e tratados na enfermaria de onco-hematologia do HC-UFPE portadores de DH e que se enquadram nos critérios de inclusão e sendo excluídos os pacientes de acordo com os critérios de exclusão.
Resultados/DiscussãoFoi encontrado que a maior incidência da doença é na terceira e quarta década de vida, com uma idade média de diagnóstico de 39 anos, de distribuição unimodal. Doença acomete mais o sexo feminino, de situação econômica inativa. A mortalidade geral desses pacientes ficou em 15%. 35% tiveram recidiva da doença e 50% obtiveram remissão. Apenas 10% dos pacientes foram encaminhados para transplante de medula óssea na modalidade de autólogo. 40% dos pacientes realizaram, no primeiro momento das fases do tratamento, o esquema quimioterápico sem bleomicina, diante da falta de abastecimento nacional. Destes, a distribuição de pacientes que atingiram remissão de doença contra pacientes que tiveram recidiva 50%, igual em ambos os cenários, contra uma diferença de 29% em relação aos pacientes que realizaram esquema com a bleomicina inicialmente. 100% dos pacientes apresentaram linfonodomegalia palpável no momento do diagnóstico histológico e 100% dos pacientes obtiveram diagnóstico com o método correto: análise histológica. Com relação a toxicidade e efeitos adversos relacionados ao tratamento, foi encontrado que 42,5% dos pacientes apresentaram neutropenia febril, 17,5% apresentaram pneumonia, 20% apresentaram cardiotoxicidade e 10% apresentaram lesão renal aguda. Óbito foi um desfecho incomum, acometeu 10% dos pacientes. Não foi encontrada menção à presença de agentes virais (HTLV, HIV, Epstein barr etc) em prontuários.