
Relatar um caso incomum de linfoma de Hodgkin em um paciente com HIV.
Caso clínicoPaciente masculino de 32 anos, portador de HIV desde 2014, em tratamento irregular, procura atendimento por febre, prostração e perda ponderal há 1 mês. Iniciado tratamento para tuberculose após identificação de nódulo pulmonar em tomografia de tórax e teste rápido fracamente positivo na urina. Admitido no nosso serviço em vigência do esquema RIPE e após tratamentos empíricos para citomegalovírus e histoplasmose. Ao exame físico encontrava-se hipocorado, ictérico, com baço à 3 cm do rebordo costal além de linfonodo palpável em cadeia cervical (1 cm), axilar direita (1,5 cm) e inguinais bilaterais (1,5 cm). Laboratorialmente, havia pancitopenia com reticulocitopenia, hiperbilirrubinemia direta, aumento de canaliculares e RNI prolongado. Foram substituídas drogas com potencial hepatotóxico e realizadas tomografias, as quais evidenciaram dois nódulos com calcificações periféricas, linfonodomegalia infracarinal hilar à direita (1,2 cm), axilar direita (1,4 cm) e esquerda (1,1 cm) além de esplenomegalia homogênea (17 cm). Realizada biópsia de um dos nódulos pulmonares com resultado inconclusivo. Na avaliação medular, o mielograma e a imunofenotipagem tinham alterações de aspecto reativo e anatomopatológico foi dito hipercelular para idade com grau leve de fibrose além de pesquisa de germes, fungos e BAAR negativas. A imuno-histoquímica revelou proliferação celular atípica focal com presença de raras células de reed-sternberg positivas para CD30 e focalmente para CD15, sugestivo de infiltração medular por linfoma de Hodgkin. O PET-CT apresentava discreto aumento do metabolismo em linfonodos acima e abaixo do diafragma (SUV máx de 3,2 em linfonodo axilar), baço e medula óssea (SUV máx de 4,4) e moderado aumento do metabolismo no canal anal, provavelmente inflamatório (SUV máx de 5,2). Diante das linfadenomegalias pequenas em conjunto com a pancitopenia exuberante e as poucas células de Hodgkin identificadas apenas após revisão de lâmina da medula óssea, optou-se por nova biópsia visto a necessidade de diagnóstico diferencial com doenças oportunistas relacionadas ao HIV. O anatomo-patológico e a imunohistoquímica do linfonodo axilar descreveram proliferação linfoide atípica compatível com linfoma de Hodgkin clássico, subtipo celularidade mista, tendo sido iniciado tratamento com ABVD por seis ciclos.
DiscussãoDentre as neoplasias não definidoras de AIDS, o linfoma de Hodgkin é o mais prevalente. Os pacientes com HIV têm risco aumentado de desenvolver a doença comparados à população geral. Também estão mais comumente associados à doença avançada no momento do diagnóstico, locais incomuns de manifestação e pior evolução. A maioria dos pacientes apresenta linfadenomegalia supra diafragmática e sintomas sistêmicos estão presentes em apenas um terço dos pacientes. Dentre os tecidos extra nodais acometidos (invasão direta ou disseminação hematogênica) estão o baço, os pulmões, o fígado e a medula óssea. As células neoplásicas constituem a minoria da população celular e uma biópsia inadequada pode não incluir células malignas na amostra, dificultando a definição diagnóstica.
ConclusãoRelatamos um caso de linfoma de Hodgkin em um paciente HIV cursando com linfadenomegalias pequenas e de baixa captação de FDG no PET-CT, sintomas B pronunciados e invasão medular logo ao diagnóstico, confirmado pelo anatomopatológico da medula óssea e do linfonodo axilar.