
A evidência de coagulopatia tem se mostrado um importante marcador de mau prognóstico na COVID-19. O D-dímero é reconhecido como parâmetro relevante para avaliação dos processos imuno-hemostáticos. Porém, permanece incerto o papel desta molécula como marcador de risco trombótico na vigência da COVID-19. Ainda há controversias na comunidade medica quanto a anticoagulacao destes pacientes. O presente estudo avaliou os valores de D-dímero de maneira evolutiva, a fim de relacionar, quantitativa e qualitativamente, a ocorrência de tromboembolismo, além de avaliar a segurança do protocolo de anticoagulação instituído.
Materiais e MétodosTrata-se de estudo retrospectivo, baseado em dados de prontuários eletrônicos, com analise da dosagem de D-dimero de pacientes internados com o diagnostico de COVID-19 com confirmação sorológica por RT-PCR, em hospital do ABC Paulista em 2020 e 2021. Este marcador foi avaliado em análise uni e multivariada como preditor de óbito, através do teste de Fisher e regressão logística. Valor preditivo do D-dímero para tromboembolismo foi avaliado pela curva ROC. Valores foram plotados considerando D0 como dia do início dos sintomas.
Resultados330 pacientes foram incluídos na análise. Destes, 11,52% apresentaram evento tromboembólico. 29% exigiram ventilação mecânica. Nenhum paciente apresentou sangramento de relevância. 6,97% evoluíram para óbito.
DiscussãoDiante dos dados apresentados, D-dímero serviu como marcador de sobrevida global em valor inicial. Esse dado é particularmente devido a um subgrupo de pacientes com valores muito altos e pouco tempo entre início dos sintomas e a admissão hospitalar. A necessidade de ventilação mecânica apresentou correlação direta com o aumento dos valores de D-dímero. Entretanto, este marcador não se correlacionou com óbito ou ocorrência de tromboembolismo. Foi observado, através da curva ROC, que seu uso como preditor positivo de eventos tromboembólicos se mostra limitado, enquanto o valor preditivo negativo para estes eventos mantém-se alto, mas em cortes com valores elevados.
ConclusãoNossos dados sugerem um prognóstico significativamente comprometido para um subgrupo de pacientes com altas taxas de D-dímero e pouco tempo entre início dos sintomas e a primeira dosagem laboratorial - muitas vezes relacionada à admissão hospitalar. Também reforçamos a importância do cuidado com o uso deste marcador, que mantém seu alto valor preditivo negativo para eventos tromboembólicos. Por fim, apresentamos nossa experiência com um protocolo de anticoagulação estabelecido durante o curso da doença.