
O presente trabalho visa demonstrar o processo de implementação do gerenciamento de sangue do paciente – Patient Blood Management (PBM) na Santa Casa de Poços de Caldas (SCPC) e expor a redução no uso de hemocomponentes no serviço. Além de frisar quais foram os impactos, benefícios e desafios na implementação deste programa.
Materiais e métodosUm estudo estatístico foi conduzido com levantamento de dados da Agência Transfusional (AT) da SCPC, hospital que atende diversas especialidades do sul de Minas Gerais, no período de agosto de 2022 a julho de 2024, período no qual foi implantado o PBM, em comparação a dados anteriores nos anos de 2018 a 2021, avaliando o impacto das medidas implantadas em comparação a antes e depois da aderência do programa PBM. Para tal, a SCPC junto à Fundação Hemominas, iniciou o PBM no hospital, realizando o treinamento para os membros do corpo clínico, recebendo a certificação do primeiro ciclo. Paro o segundo ciclo novos indicadores passaram a ser monitorados, objetivando realizar uma análise comparativa dos resultados, avaliando a redução de transfusões e custos, além de riscos associados a processos transfusionais.
ResultadosEm 2018, a média anual de transfusão foi de 602 unidades transfusionais (UT) e ao longo dos anos esse número vem reduzindo a partir da conscientização sobre o ato transfusional. Em 2019, houve 503 UT realizadas, acarretando uma redução de 17% em comparação a 2018. Em 2020, essa diminuição de 34% com relação a 2019, conferindo 335 UT no ano. Houve 15% de redução de UT em 2021 em comparação a 2020, com 286 UT. Em agosto de 2022 iniciamos o PBM e assim notamos expressiva melhora nos índices transfusionais, atingindo uma média de 241 UT em 2022, 209 UT em 2023 e 171 até julho de 2024, compondo uma redução de 16%, 27% e 41%, respectivamente, em relação ao ano de 2021.
DiscussãoA partir dos dados levantados, pontua-se fatores que comprovam a eficácia e impactos gerados com a implementação de medidas do PBM. Um dos principais resultados obtidos é a segurança do paciente devido melhora fluxo transfusional pela diminuição do número de transfusões/dia. Ressalta-se que, apesar da expressiva diminuição dos hemocomponentes, não houveram danos aos pacientes, pois foram realizadas medidas de suporte clínico e farmacológico para o tratamento de anemias e sangramentos. Além da transfusão segura, há importante redução do custo operacional da AT, diminuindo as sobrecargas humanas e econômicas geradas dentro de uma AT, focando na qualidade de todos os processos que envolvem o ciclo transfusional. Apesar dos desafios de conscientizar a equipe multiprofissional, principalmente a equipe médica, percebe-se que nessa amostra em nosso hospital, o PBM vem surtindo efeitos positivos com melhora da prescrição de hemocomponentes.
ConclusãoSabe-se que a implantação de um programa que gera tamanho impacto traz grandes desafios, como as dificuldades em adesão da equipe multidisciplinar, visto que gera uma grande mudança de cultura. Nesse aspecto é de extrema importância o apoio da alta gestão hospitalar que garanta a qualidade dos processos. Mas isso só é possível ao mostrar os benefícios ao adotar estratégias restritivas ao invés de liberais e como isso pode afetar a segurança do paciente e os processos de qualidade. Reduzindo tempo de internação, riscos de infecção e diminuição de custos para o hospital. Além disso, a partir de indicadores positivos, avançar para os demais pilares em gerenciamento de sangue.