HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO desenvolvimento do câncer depende de fatores além dos intrínsecos relacionados às células clonais, como um microambiente que auxilia no estabelecimento e progressão da doença. No mieloma múltiplo, evidências apontam para um microambiente tumoral imunossupressor. Uma melhor compreensão da interação complexa entre as células tumorais do MM e seu microambiente deve contribuir para a escolha de melhores terapias, com o potencial controle da doença a longo prazo. Diversos estudos avaliam os mecanismos de interação entre as células estromais e as células tumorais para a persistência e progressão da doença. Entretanto, a maior parte dos estudos é realizada em cultivos celulares, que podem não refletir a real interação in vivo desse microambiente com as células clonais.
ObjetivosEste trabalho tem por objetivo avaliar o microambiente tumoral por citometria de fluxo de nova geração (NGF), com especial atenção às células estromais e como a composição deste compartimento se correlaciona com o status da doença.
Material e métodosEste estudo recrutou pacientes atendidos nos serviços de hematologia dos hospitais universitários Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e Gaffrèe e Guinle (HUGG/Unirio). Foram avaliadas, por NGF, MO de pacientes novos diagnósticos de MM e, após a terapia de indução, para avaliação de doença residual mínima (DRM) aos 6 ou 12 meses após o início do tratamento. Simultaneamente, também foi avaliado o microambiente de MO, com foco na identificação e estratificação do compartimento de células estromais. Os pacientes foram tratados com diferentes esquemas terapêuticos de indução, VTD ou VCD. Para o diagnóstico e avaliação de DRM, foi utilizado o painel NGF para MM seguindo os protocolos de processamento e marcação do consórcio Euroflow (https://euroflow.org). O compartimento de células estromais foi avaliado com um painel de 8 cores específico para a identificação destas células, com posterior estratificação das células mesenquimais (MSC) e endoteliais.
ResultadosAo diagnóstico, todos os pacientes (n = 21) tiveram PC clonais detectados (0.06-78.3%) na MO e uma mediana de 0.03% (0.0009-0.54%) de células estromais, sendo este compartimento composto de 49% de MSC (4-83%) e 51% de células endoteliais (17-96%). Na avaliação de DRM, os grupos por estratificação de doença apresentaram percentuais de células estromais na MO semelhantes, DRM+ (6/12, 50%) 0.03% (0.001-0.25%) e DRM- (6/12, 50%) 0.028% (0.0009- 0.71%) células estromais. Dentro do compartimento de células estromais, os pacientes DRM+ tiveram um incremento de MSC quando comparado ao diagnóstico, 80% (75-82%) (p < 0.001). Os pacientes DRM- tinham uma mediana de 65% (0-80%) de MSC no compartimento de células estromais (p = NS).
Discussão e conclusãoO estudo do estroma da MO por citometria de fluxo fornece uma avaliação rápida e sensível para identificação e estratificação do compartimento de células estromais. Nossos achados mostram que o aumento de MSC durante o curso da doença parece fornecer um nicho de suporte para a manutenção das células patológicas. Estudos com coortes maiores e por períodos prolongados pode nos ajudar a confirmar esse padrão de distribuição e como se correlaciona com desfechos clínicos dos pacientes.




