
Avaliar o grau de hemólise e sua conformidade, no 2°e 10°dia de armazenamento dos concentrados de hemácias (CH) produzidos a partir de sangue total com plasma lipêmico, correlacionando com os valores de triglicerídeos.
MétodoDe janeiro de 2019 a março de 2020 os CH com plasma lipêmico foram segregadas pelo Laboratório de Processamento do Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo - Passo Fundo/RS. Amostras dos segmentos das bolsas foram retiradas no 2°e 10°dia de armazenamento para obtenção dos valores de hematócrito (%) e hemoglobina (g/dL) no equipamento Micros ES 60 – Horiba. Após, as amostras foram centrifugadas para separação do sobrenadante e determinação da hemoglobina livre no espectrofotômetro UV-1000A – Instrutherm a fim de calcular o grau de hemólise (GH). Os valores de triglicerídeos foram dosados em laboratório de apoio através de método colorimétrico enzimático. Foram considerados valores de triglicerídeos normais sem jejum ≤ 175mg/dL, elevado de 176 a 499 mg/dL e muito alto ≥ 500mg/dL, conforme Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose. Os dados foram analisados em planilha Excel.
ResultadosForam avaliados 196 CH. 11 apresentaram valores normais de triglicerídeos e média GH de 0,107% (0,017-0,219%) no D2 e 0,289% no D10 (0,037-0,907%) onde apenas 1 caso (9,1%) apresentou GH em não conformidade. Das 144 amostras com valores elevados de triglicerídeos, a média GH no D2 foi 0,168% (0,026-1,531%) sendo 2 (1,4%) não conformes, no D10 a média foi 0,353% (0,054-1,283) sendo 13 (9,0%) não conformes. Das 41 amostras com valores de triglicerídeos ≥500mg/dL a média do GH no D2 foi 0,381% (0,036-2,584) sendo 4 (9,8%) não conformes e no D10 foi 0,620% (0,114-2,736) sendo 9 (22%) não conformes.
DiscussãoA lipemia é causada pela presença de valores elevados de triglicerídeos e evidências mostram associação com risco cardiovascular e mortalidade (Oliveira, Antunes e Amil, 2022). Bashir et. al., 2013 reportou aumento da hemólise em concentrados de hemácias suspensos em plasma lipêmico, achados corroboram os resultados obtidos no presente estudo. O autor ainda destacou que estes dados são relevantes para a escolha do plasma a ser usado na produção do sangue total reconstituído para exsanguíneotransfusão. Laleijne-Liefting, Lagerberg e de Korte, (2018) também reportaram grau de hemólise mais elevado ao final do armazenamento nos concentrados de hemácias com plasma lipêmico quando comparados com grupo controle. Os autores ressaltam que o mecanismo do aumento da hemólise em doações lipêmicas é desconhecido, e devido ao resultado obtido em seu trabalho, optou por descartar o sangue total em caso de lipemia. Cabe destacar que a lipemia também interfere na triagem de doenças transmissíveis pelo sangue, influenciando na eficácia de ensaios colorimétricos e quimioluminescentes (Laleijne-Liefting, Lagerberg e de Korte, 2018).
ConclusãoAs análises dos resultados demonstram aumento da hemólise nos concentrados de hemácias com plasma lipêmico e as causas deste fenômeno não estão totalmente estabelecidas. Destacamos a necessidade de conhecer o perfil dos doadores que apresentam plasma lipêmico para trabalhar na orientação e prevenção da lipemia, contribuindo com a saúde dos doadores e qualidade dos componentes transfundidos, além de evitar o descarte de hemocomponentes.