Avaliar parâmetros de qualidade dos hemocomponentes transfundidos e envolvidos em reações transfusionais.

Foram analisados 208 hemocomponentes produzidos e transfundidos no Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo, cujos pacientes, durante ou logo após o término da transfusão apresentaram sinais ou sintomas de reação transfusional (RT). A análise laboratorial foi realizada no hemocomponente restante da transfusão ou no seu co-componente. A determinação do Hematócrito (Ht-%), Hemoglobina (Hg-g/dl) e contagem de plaquetas foi realizada no equipamento Micros ES60 –Horiba. A contagem de leucócitos em câmara de Nageotte, a determinação da hemoglobina livre para cálculo do grau de hemólise (GH) no sobrenadante foi realizada no espectógrafo UV-100A (Instruthem) e a cultura microbiológica no equipamento Bact Alert. Os dados foram coletados de janeiro de 2013 a julho de 2022 e foram analisados através de planilha Excel.

Das 208 amostras envolvidas em RT, 183 (88,0%) foram de transfusões de Concentrados de Hemácias Deleucotizadas (CHD) e 25 (12,0%) foram de transfusões de Concentrados de Plaquetas Deleucotizadas (CPD) ou por Aférese (CPAD). Dos CHD analisados, 17 (9,2%) apresentaram valores de Ht abaixo (Ht < 50%) dos estabelecidos em legislação (Portaria de Consolidação n°5, 2017), porém, 100% apresentaram valores de Hg/bolsa conformes e não foram evidenciados GH fora dos valores de referência (< 0,8% da massa eritrocitária). Os CPD e CPAD analisados apresentaram contagem de plaquetas conformes. Todos os hemocomponentes envolvidos em RT apresentaram contagem de leucócitos conforme e não houve crescimento bacteriano nas amostras analisadas.

A qualidade do processo transfusional tem sido uma das maiores preocupações dos serviços de hemoterapia, porém, como relata Macedo et. al., 2015, mesmos com todos os esforços e tecnologias disponíveis a utilização do sangue na prática transfusional ainda envolve riscos relativos. Dentre os riscos relacionados à transfusão, Sosnoski, 2017, relata que as reações transfusionais têm grande importância, tanto pela frequência que ocorrem, como pelo potencial de agravamento da saúde dos pacientes, podendo elevar o risco de sequelas e morte. A contaminação bacteriana é o problema de maior risco, ocorrendo principalmente por antissepsia, manipulação ou estocagem inadequadas dos hemocomponentes. Contudo, esses riscos são considerados muito baixos, devido à evolução na avaliação do controle de qualidade, o que pode ser evidenciado em nosso estudo, onde não houve crescimento bacteriano nos hemocomponentes avaliados. Foi verificado, no presente estudo, que o CHD foi o hemocomponente envolvido com maior frequência em reações transfusionais, seguido dos componentes plaquetários e não foram observadas reações ocasionadas por transfusão de plasmas, o que também foi relatado por Macedo et.al., 2015. A contagem de leucócitos nos componentes envolvidos em RT não foi significativa, o que é justificado pelo uso de filtro para redução dos leucócitos em todos os hemocomponentes transfundidos.

Os dados obtidos mostram que a qualidade dos hemocomponentes transfundidos segue os parâmetros estipulados por legislação vigente, permitindo inferir que as reações não estão relacionadas com as condições dos hemocomponentes transfundidos.