
O mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia maligna de plasmócitos da medula óssea que possui uma grande carga de sintomas, comprometendo a qualidade de vida (QV) e a capacidade funcional dos pacientes. O seu tratamento envolve o uso de fármacos potencialmente causadores de NIPQ, como talidomida, lenalidomida e bortezomibe. A NPIQ é relatada entre 10 e 55% dos pacientes em uso de talidomida e entre 31 e 64% daqueles em uso de bortezomibe. Nesse sentido, objetivou-se avaliar a NPIQ em pacientes em tratamento para MM em um hospital terciário em Passo Fundo (RS).
MetodologiaEstudo transversal, descritivo e quantitativo no qual aplicou-se, mediante autorização de Comitê de Ética em Pesquisa (n° 6.544.927), o instrumento Indication for Common Toxicity Criteria – Grading of Peripheral Neuropathy Questionnaire (ICPNQ), que contém três subescalas hipotéticas que avaliou sintomas sensoriais, autonômicos e motores em 23 pacientes que estavam em uso de drogas neurotóxicas no momento da pesquisa.
Resultados e discussãoO ICPNQ é usado para avaliação da NPIQ em pacientes com MM. Mediante as respostas dos pacientes é possível uma indicação em relação ao grau CTCAE (Critérios de Terminologia Comum para Eventos Adversos) da NPIQ, de modo que em nosso estudo obteve-se os seguintes resultados: grau 0, assintomático, apenas um (4,3%) paciente; grau I, presença de sintomas sensoriais como dormência, formigamento e alterações proprioceptivas, 5 pacientes (21,7%); grau II, sintomas autonômicos e/ou perda de força, e/ou problemas vivenciados em atividades instrumentais acompanhadas de sintomas sensoriais e/ou dor, 13 pacientes (56,5%); e grau III, problemas nas atividades de autocuidado acompanhadas de sintomas sensoriais e/ou dor e/ou perda de força, 4 pacientes (17,4%). Quanto aos protocolos de tratamento utilizados, 39,1% estavam em uso de talidomida; 39% de bortezomibe; 13% associação de talidomida com bortezomibe e 8,7% em uso de lenalidomida. A neuropatia é um efeito adverso comum da quimioterapia, sendo observado, em nosso estudo, em mais de 95% dos entrevistados. Do mesmo modo, um estudo realizado na Holanda com 56 pacientes portadores de MM, evidenciou que 65% deles relataram graus 2 ou 3 de neuropatia, de acordo com o ICPNQ. Os fármacos empregados no tratamento do MM tem aumentado a sobrevida dos pacientes, porém os efeitos adversos vivenciados impactam negativamente na QV. Tendo em vista que não existem agentes terapêuticos preventivos da NPIQ, os seus instrumentos de mensuração são fundamentais na prática clínica, pois auxiliam os médicos na tomada de decisão frente a manutenção ou redução de doses, visando manter o controle da doença e melhorar os sintomas experimentados pelos pacientes. Deve-se salientar que além da quimioterapia, existem outras potenciais causas de neuropatia, porém, exames mais objetivos como eletroneuromiografia nem sempre estão disponíveis.
ConclusãoCom aumento da expectativa de vida, as neoplasias estão entre uma das principais causas de morbimortalidade na população e os pacientes enfrentam os efeitos da quimioterapia na QV. Diante disso, o uso de instrumentos de avaliação da NIPQ, ajudam a compreender o quanto a neuropatia interfere no tratamento oncológico, além de auxiliar os profissionais sobre as medidas cabíveis para assegurar a manutenção do bem estar do paciente durante o tratamento.