
Considerando os transtornos hemostáticos nos acidentes ofídicos, o estudo visa analisar os dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais dos acidentes por Bothrops erythromelas.
Material e MétodosÉ uma análise documental, retrospectiva, transversal e quantitativa. A amostra engloba casos confirmados e notificados pelo Centro de Assistência e Informação Toxicológica de Campina Grande (CIATOX-CG), entre janeiro de 2018 a dezembro de 2019. As variáveis foram oriundas das fichas de Notificação Individual dos Acidentes por Animais Peçonhentos, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Tendo sido relacionadas ao indivíduo, ao acidente, ao tratamento, evolução do caso e parâmetros laboratoriais, como tempo de coagulação (TC), tempo de sangramento (TS), tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa). Foram selecionados os pacientes que na admissão hospitalar apresentaram a serpente para a identificação da espécie, no Laboratório de Animais Peçonhentos e Toxinas (LAPTOX-UEPB). Em adição, foram contemplados os casos classificados como acidentes leves, moderados ou graves. Os dados foram obtidos, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 66937817.8.0000.5187). Foram usadas a estatística descritiva, as frequências simples absolutas, os percentuais e a organização dos resultados em tabelas, além do teste Qui-quadrado e o teste Exato de Fisher. Para a análise espacial dos acidentes botrópicos, foi utilizado o software livre - QGIS®3.8.
ResultadosDos 195 estudados, a maioria ocorreu com o gênero masculino (148; 75,9%), faixa etária de 20 a 49 anos (98; 50,3%), ensino fundamental incompleto (66; 33,8%) e agricultores (127; 65,1%). A maioria dos acidentes foi classificado como leve (86; 44,1%). As maiores manifestações locais registradas foram: dor (149; 43,6%) e edema (139; 40,6%), enquanto que dentre as sistêmicas, foram as miolíticas (84; 43,8%). Em relação ao tratamento soroterápico, 49 pacientes (27,5%) necessitaram de 1 a 3 ampolas de Soroterapia Antibotrópica para reestabelecimento da hemostasia, entre 1 a 3 horas após o acidente (86; 48,3%). No que concerne aos parâmetros laboratoriais, 145 pacientes (74,4%) apresentaram hematimetria normal nos exames admissionais, bem como a leucometria global (110; 56,4%), contagem plaquetária (136; 69,7%) e TS (156; 80,0%). A maioria apresentou incoagulabilidades no TC (161, 82,6%), TP (157; 80,5%) e TTPa (157; 80,5%) e 9 pacientes necessitaram de doses adicionais de SAB. A cidade de Cuité apresentou maior registro de acidentes botrópicos (14; 7,2%).
DiscussãoOs dados corroboram relatos científicos que reportam alterações hemostáticas decorrentes do ofidismo, desencadeando coagulopatia de consumo induzida pelo veneno da Bothrops erythromelas. Além disso, esta peçonha não apresenta atividade semelhante à trombina, porém possui efeito procoagulante acentuado e a berythractivase. Na sororoterapia antibotrópica, houve divergências entre as recomendações e a prática clínica no manejo do referido empeçonhamento. Provavelmente, devido à ausência específica do veneno desta serpente no pool utilizado atualmente para a fabricação do soro antibotrópico no Brasil.
ConclusãoPortanto, à submissão do paciente a soroterapia antibotrópica é inprescindível para evitar o desenvolvimento e/ou agravamento dos distúrbios hemostáticos associados ao empeçonhamento por Bothrops erythromelas.