
A medicina transfusional busca tornar-se cada vez mais segura para os pacientes cuja condição clínica demanda a terapia com hemocomponentes. Para isso, torna-se necessária a aplicação de técnicas imunohematológicas cada vez mais precisas na rotina laboratorial, a fim de evitar reações transfusionais como a aloimunização.
ObjetivosOs objetivos do estudo foram determinar a frequência de aloimunização dos pacientes atendidos na Agência Transfusional (AGETRA) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU/EBSERH), investigar as características demográficas, clínicas e epidemiológicas dos pacientes positivos para a Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI), assim como avaliar a frequência e os aloanticorpos antieritrocitários na população analisada.
Material e métodosFoi realizado um estudo observacional retrospectivo incluindo todos os pacientes PAI positivos atendidos na AGETRA do HCU-UFU/EBSERH, no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2020. A coleta de dados foi realizada através da análise dos registros médicos e informações disponíveis na unidade.
ResultadosA prevalência de aloimunização na AGETRA foi de 1,7%, durante os anos de 2019 e 2020. Dos 201 pacientes PAI positivos, a aloimunização foi mais comum em mulheres (64,2%) do que em homens (35,8%), com uma média de idade de 49 anos. Os grupos sanguíneos A (39,8%) e O (38,8%), Rh positivos (69,1%) predominaram e cerca da metade (48,2%) dos pacientes foi transfundida em decorrência de procedimentos pré-operatórios. 32,8% da população recebeu de 1 a 3 transfusões durante o período de internação e 71,6% tinha histórico transfusional. Dentre os 201 pacientes, 121 tiveram aloanticorpos clinicamente significativos caracterizados, e os mais frequentemente encontrados foram anti-D (27,2%), anti-E (15%) e anti-Kell (11,5%). Destes, 30,6% (37/121) apresentaram múltiplas associações de anticorpos, sendo a combinação anti-D e anti-C a mais comum. Das 18 gestantes PAI positivo, 14 tiveram seus aloanticorpos caracterizados. Todas as mulheres eram multíparas, 85,7% (12/14) apresentaram anti-D como o anticorpo mais prevalente, e o tipo sanguíneo A negativo (33,3%; 4/12) foi o mais frequente. Em apenas uma gestante foi identificado história de transfusão anterior.
DiscussãoObservamos em nosso estudo que a maior parte dos pacientes aloimunizados foram representados por mulheres, que sabidamente são mais suscetíveis devido a maior exposição antigênica, em função das gestações, além das transfusões. A aloimunização também está associada ao número de hemocomponentes transfundidos e episódios de transfusão e, neste trabalho, a maioria dos pacientes apresentou história de transfusão prévia. Quanto à especificidade dos aloanticorpos identificados, anti-Rh e anti-Kell foram os mais prevalentes, corroborando a literatura. Em relação às gestantes avaliadas, observamos o predomínio de anti-D, considerado principal fator de risco para a doença hemolítica perinatal.
ConclusãoA triagem de aloanticorpos e a sua caracterização, associadas à imunofenotipagem eritrocitária para pacientes onco-hematólogicos, renais crônicos, transplantados, gestantes e politransfundidos, são necessárias para o melhor entendimento da população aloimunizada o que pode garantir maior segurança e eficácia à terapia transfusional, reduzindo a possibilidade de reações transfusionais graves.