HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica caracterizada pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea e produção de imunoglobulinas monoclonais, frequentemente precedida por gamopatia monoclonal de significado indeterminado (MGUS) e mieloma múltiplo smoldering (SMM). A citometria de fluxo multiparamétrica (CFM) é essencial para o diagnóstico diferencial dessas discrasias, permitindo detectar assincronismos maturacionais e aberrações fenotípicas de relevância prognóstica, como CD56, associado a evolução desfavorável, e CD117, correlacionado a subtipos moleculares específicos e possível melhor prognóstico.
ObjetivosEste estudo, realizado no Banco de sangue do Rio Grande do Norte, Hemocentro Dalton Cunha (Hemonorte), integrou análises de CFM a metodologias computacionais em linguagem R, com o objetivo de caracterizar detalhadamente o perfil imunofenotípico do MM e avaliar seu potencial na estratificação prognóstica, buscando otimizar a tomada de decisão diagnóstica.
Material e métodosForam analisados dados de CFM de 145 pacientes atendidos entre 2023 e 2025, incluindo casos confirmados de MM e casos negativos para suspeita de MM (grupo controle). As amostras foram processadas em citômetro DxFLEX (Beckman Coulter) com painel padronizado de anticorpos monoclonais. Os dados flow cytometry standard (fcs) derivados da aquisição foram submetidos a uma série etapas de processamento e visualização por diferentes bibliotecas no R e Rstudio, incluindo leitura pela flowCore, clustering pelo FlowSOM, visualização geral pelo ComplexHeatmap, avaliação entre grupos e amostras pelo ggplot2 e ggpubr, análise de correlação pelo circlize e análise de expressão por UMAP.
ResultadosA seleção de plasmócitos foi baseada na coexpressão CD38⁺/CD138⁺, após isolamento da população mononuclear por CD45 e SSC. A coorte apresentou idade média de 66 anos, com leve predominância feminina. Nos casos de MM, os plasmócitos exibiram assincronismos maturacionais marcantes, com alta expressão de CD38/CD138, ausência de CD19/CD45 e aberrações frequentes de CD56 e CD117. A média de intensidade de fluorescência (MIF) apresentou maior dispersão no MM para CD38, Kappa e Lambda, indicando clonalidade e heterogeneidade fenotípica. A coexpressão de CD38/CD138 com CD56/CD117 foi recorrente no MM, enquanto CD45 e CD3 mostraram perda de correlação.
Discussão e conclusãoA análise de correlação hierárquica destacou quatro relações principais. O par CD38/CD138, marcadores estruturais de plasmócitos, apresentou proporcionalidade semelhante entre MM e controle, validando a estratégia de seleção celular. Já CD56/CD117, ausentes em plasmócitos normais, mostraram ausência de correlação no controle e surgimento de conexões no MM, evidenciando aberrações relacionadas à progressão tumoral e ao valor prognóstico. Observou-se ainda a perda quase total de correlação para CD45 e CD3 no MM, condizente com a ausência típica de CD45 em plasmócitos clonais e possível comprometimento da imunidade mediada por linfócitos T. Tais achados corroboram a literatura e, com o apoio de abordagens computacionais, permitiram identificar e modelar padrões imunofenotípicos, registrando-os para integração com análises futuras e agilizando a interpretação diagnóstica, fortalecendo o papel da CFM na estratificação prognóstica no MM.




