HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica incurável caracterizada pela proliferação de células plasmáticas clonais na medula óssea, associada a produção de paraproteína e dano orgânico. Representa cerca de 10% das doenças hematológicas malignas. O diagnóstico segue critérios do International Myeloma Working Group (IMWG, 2014), que combinam alterações clínicas (CRAB) e biomarcadores (SLiM). A doença é heterogênea e exige uma abordagem individualizada baseada em estadiamento (ISS/R-ISS) e biologia molecular. Nos hospitais públicos, o manejo do MM pode ser limitado por dificuldades de acesso a exames e terapias modernas, impactando nos desfechos clínicos.
ObjetivosGeral: Atualizar o perfil clínico e epidemiológico de pacientes com mieloma múltiplo recém diagnosticados em um hospital público de Minas Gerais. Específicos: 1. Caracterizar a população quanto a dados demográficos e laboratoriais. 2. Descrever os esquemas de tratamento utilizados. 3. Avaliar os desfechos clínicos, como elegibilidade e realização de TMO, além da sobrevida global.
Material e métodosFoi realizado estudo retrospectivo observacional para descrever características clínicas e laboratoriais de pacientes com mieloma múltiplo diagnosticados no HC-UFMG entre jan/2018 e jun/2024, segundo critérios IMWG/2014. Foram incluídos pacientes ≥18 anos, excluindo amiloidose e leucemia plasmocitária. Dados de prontuários e exames foram analisados no SPSS 20.0, com SG calculada por Kaplan-Meier e log-rank.
ResultadosNesta atualização, foram incluídos 132 pacientes diagnosticados entre 2018 e junho de 2024, com incidência média de 20 casos/ano. A mediana de idade foi de 65 anos, com leve predominância do sexo masculino (52%). Comparado à versão anterior, observa-se estabilidade nas características clínicas gerais, mas a inclusão de mais pacientes permitiu maior robustez nos dados de sobrevida e resposta terapêutica. A maioria dos pacientes ainda chega com doença avançada (ISS 3 em 46,6%), destacando o atraso diagnóstico. A anemia (Hb < 10 g/dL) foi encontrada em 60,9%, hipercalcemia em 19,5%, creatinina ≥ 2 mg/dL em 27,8% e lesão óssea em 87,2%. O principal esquema de indução para elegíveis ao transplante foi CTD (56%), seguido de VTD (41%). Para não elegíveis, predominou CTD (48%). A mediana de tempo até o transplante foi de 15 meses, e apenas 70,7% dos elegíveis efetivamente realizaram o TMO, reforçando barreiras no acesso. Um aspecto novo trazido nesta versão foi a análise comparativa entre pacientes que receberam QT por tempo definido vs. QT contínua até o TMO, com melhora observada na sobrevida livre de progressão (SLP), embora sem impacto na sobrevida global (SG). A introdução do bortezomibe em 2021 no hospital público pode ter influenciado positivamente os desfechos mais recentes. A mediana da sobrevida global estimada foi de 53 meses, maior do que em estudos anteriores da mesma instituição.
Discussão e conclusãoEste estudo atualizou e ampliou o conhecimento sobre o perfil dos pacientes com mieloma múltiplo atendidos em hospital público de Minas Gerais, confirmando desafios no diagnóstico precoce, acesso a transplante e disponibilidade de terapias modernas. Apesar dessas limitações, houve melhora na sobrevida, especialmente após a introdução de novos fármacos como o bortezomibe. Os dados reforçam a necessidade de políticas de saúde que garantam acesso precoce ao diagnóstico, terapias eficazes e agilidade nos encaminhamentos para TMO, com impacto direto no prognóstico dos pacientes.




