
Descrever um caso de Sarcoma Granulocítico em paciente jovem sem histórico clínico de neoplasia.
MétodosOs dados presentes neste relato foram obtidos por meio de uma revisão do prontuário e exames do paciente.
RelatoPaciente feminina,18 anos, encaminhada ao ambulatório de Hematologia de Unidade de Atendimento Terciário (HGCC) sob suspeita diagnóstica de Linfoma não Hodgkin. A queixa principal da paciente consistia no surgimento de um nódulo na mama esquerda há cerca de 4 meses, descrita como endurecida e indolor. Negou perda de peso, sudorese noturna e febre. Em sua história patológica negou histórico familiar de neoplasia maligna, negou etilismo e tabagismo. O exame físico revelou adenomegalia axilar endurecida e aderida aos planos. Já a inspeção e palpação torácica evidenciaram a assimetria das mamas e presença de nódulo endurecido na mama esquerda de dimensões significativas ao volume total, ausência de descarga ou sinais flogísticos. Ausculta pulmonar, cardíaca, exame abdominal inalterados. Foram solicitados exames complementares incluindo: usg de mama e de tórax, estudos imuno-histoquímicos e eletroforese de proteínas.
ResultadosExcetuando-se a USG de mama com apresentação de imagem nodular hipoecogênica irregulares (3,9 x 2,2 cm), os demais exames de diagnóstico de imagem não apontaram alteração. O primeiro exame imuno-histoquímico foi positivo para presença do marcador anti-CD45, compatível com proliferação linfoide difusa no parênquima mamário. A ampliação do painel imuno-histoquímico para avaliação da clonalidade dos linfócitos apontou a expressão de anti-CD45 e anti-CD43, indicativos de neoplasia indiferenciada. Por fim, uma nova ampliação de estudo do subtipo histológico, foi compatível com os marcadores antimieloperoxidase, CD34 e CD117, validando o diagnóstico de SG.
DiscussãoO Sarcoma Granulocítico, também denominado cloroma ou sarcoma mieloide, trata de uma neoplasia extramedular rara constituída de células precursoras mieloides. Esse processo carcinogênico ocorre em cerca de 2% a 14% dos casos de leucemia mieloide aguda (LMA). Os sítios anatômicos mais acometidos são a pele, linfonodos, trato gastrointestinal, osso, tecido conectivo e testículo, sendo o tecido glandular mamário, alvo desse relato, um local incomum de apresentação do SG. Além disso, a ausência de diagnóstico prévio de leucemia como identificado na paciente, torna essa manifestação isolada ainda mais rara e passível de outros diagnósticos diferenciais (Linfoma não Hodgkin, Carcinoma lobular, Fibroadenoma ou Sarcoma mamário). O diagnóstico do SG é dado por exames imuno-histoquímicos como demonstrado na paciente em foco neste relato, cujo resultado tornou-se compatível ao sarcoma granulocítico pelos marcadores anti-mieloperoxidase, CD34 e CD117. É tratado como LMA, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde. Existem poucos dados disponíveis na literatura sobre o impacto do tipo de tratamento (quimio, radio ou cirúrgico) no prognóstico, sendo, portanto, indeterminado.
ConclusãoO presente relato de caso descreve uma apresentação rara de uma doença hematológica maligna, o sarcoma granulocítico, no tecido mamário. A principal ferramenta diagnóstica foi a imuno-histoquímica. O diagnóstico assertivo torna-se um desafio, tendo em vista a singularidade do caso, desde seu sítio anatômico ao histórico incomum da paciente. Por fim, é indispensável que haja a documentação de mais casos de SG para o avanço da sua linha terapêutica e sobrevida.